Levantou-se o habitual alarido na imprensa lisboeto-espalhafatosa
– mas há-a de outro tipo? A dos bas-fonds do poder – quando o sujeito passivo da
epinotícia é o Governo ou as suas instituições, e o activo um dos seus
elementos mais próximos.
Na TVI o episódio mereceu maior destaque, em minutos, que a
derrapagem nos números de (de)crescimento do PIB ou de acréscimo na taxa de desemprego.
No Público gastaram-se 1.700 caracteres para dizer, logo no seu título, que «Ex-secretário de Estado avisa que vai mandar o fisco “tomar no cu”».
A mim preocupa-me apenas a expressão. Eu teria dito “apanhar”
ou “levar”, é mais rasteirinha, bem mais portuguesa, vernacular. Mas sendo o
Francisco um homem ecuménico por natureza, tão lido por nós, os do rectângulo,
como pelos nossos irmãos do outro lado do Atlântico, desculpa-se o “tomar”; e este, é o único
pecado detectável no seu texto, venial, apenas susceptível de causar algum tipo de proctalgia aos mais sensíveis.
“Cu” também goza de um riquíssimo campo semântico, mas
adequa-se ao contexto, embora “olho” se encaixasse melhor neste baixo ciclópico país,
terra em que os dois de cima, há muito, deixaram de ver, e como em tempos disse Vasco Pulido Valente, os que tinham um e poderiam ser reis, tiveram de o vazar,
porque a mediocridade reinante a cada esquina não permite esse arrojo.
No entanto, é urgente resolver outra questão que, por analogia, pode traduzir-se em ineficácia fiscalizadora: como será possível mandar
esses zelosos e temerários fiscais tomar, apanhar, levar no cu (perdoem-me a
exergásia), se quem tem cu tem medo?