terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Bartleby Sphere, foi há 27 anos

Nove da manhã. A efeméride anunciava-se na rádio e, ante a voracidade dos contratos publicitários da estação, cerca de 30 segundos de um som etéreo foram considerados suficientes para lhe render a homenagem. O dia de hoje marca os 27 anos da morte de um dos mais icónicos e bartlebianos (síndrome que o atacou no momento em que a sua carreira atingia o auge) pianistas e compositores de Jazz de sempre: a 17 de Fevereiro de 1982, morria em Weehawken, Nova Jérsia, Thelonious Sphere Monk, Jr. (1917-1982); conjuntamente com o eterno “BirdCharlie Parker, um dos pais fundadores do Bebop.
A sua última actuação ao vivo tinha ocorrido numa fugaz aparição em 1976 no famoso Bradley’s, em Greenwich Village em Nova Iorque, onde tocou apenas duas músicas e saiu de forma intempestiva da sala. Nas palavras do seu amigo pianista e compositor Randy Weston (n. 1926) «Ele [Monk] veio, exteriorizou a beleza e saiu.» [cf. The Nesuhi Ertegun Jazz Hall of Fame (Jazz at Lincoln Center Hall of Fame); tradução: AMC].

Volto ao célebre artigo de Don DeLillo de onde foram retiradas as palavras que constam da epígrafe deste blogue (e integram o segundo texto da 3.ª fase da minha vida na blogosfera: Nunca Mais), e volto, por força das palavras impressas, a O Náufrago de Thomas Bernhard, o abismo do isolamento – que DeLillo afirma ser uma forma abreviada de uma execução dentro da lei –, talvez simbolizado pela Moenchsberg [tradução literal na versão inglesa Monk’s Mountain (A Montanha do Monge)]:

«[…] Moenchsberg, a que se chama também o Monte do Suicídio porque é o que há de mais apropriado para um suicídio e, realmente, três ou quatro suicidas por semana, pelo menos, despenham-se do seu cume. Os suicidas sobem no elevador instalado no interior do monte, dão meia dúzia de passos e precipitam-se sobre a cidade. Sempre me senti fascinado por aqueles que vinham esborrachar-se na rua, e eu próprio subi muitas vezes ao Moenchsberg, a pé ou no ascensor (como aliás também o Wertheimer), na intenção de me atirar dele abaixo, mas não me atirei (e o Wertheimer também não!). Por várias vezes estive pronto a atirar-me, mas, tal como o Wertheimer, nunca cheguei a fazê-lo. Voltei as costas ao precipício. É evidente que até hoje houve muitos mais a voltar as costas do que a saltar, pensei.»
Thomas Bernhard, O Náufrago, p. 12.
(Lisboa: Relógio D’Água, 1987, 144 pp; tradução de Leopoldina Almeida; obra original: Der Untergeher, 1983)

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