sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

90 anos

©2000 Margaret A. Salinger e J. D. SalingerFoi ontem. Um tal de Jerome David, mais conhecido pelo seu apelido Salinger, completou noventa anos de idade.
Desapareceu das luzes da ribalta em 1965, permanecendo em estrito isolamento perante o turbilhão do mundo exterior.
Nasceu a 1 de Janeiro de 1919, no seio de uma família de raízes judaicas (apesar de a mãe, de origem irlandesa, se haver convertido ao judaísmo somente após o casamento com o seu pai de ascendência polaca). Depois da aproximação do espiritualismo Zen, Yoga, e das religiões orientais, em meados da década de 1950 converteu-se à Ciência Cristã – não confundir com Cientologia, são seitas religiosas completamente distintas em todos os seus preceitos.
Salinger despediu-se do meio editorial com a novela Hapworth 16, 1924, publicada na íntegra na edição de 19 de Junho de 1965 da revista The New Yorker – número esgotado, tendo Salinger impedido a reedição, apesar de em 2005 ter surgido em oito DVD’s e um livro The Complete New Yorker: Eighty Years of the Nation's Greatest Magazine, onde o referido número não foi retirado.
O seu primeiro trabalho de ficção de fundo trouxe-lhe, de uma forma vertiginosa, a fama mundial: The Catcher in the Rye, de 1951, (ed. port: Uma Agulha em Palheiro, na edição da Livros do Brasil; À Espera no Centeio, na edição da Difel) e o seu protagonista de dezasseis anos Holden Caulfield.
Mais tarde dedicou-se à disfuncional família de prodígios de nome Glass e retirou-se.
Diversas fontes asseguram que, Salinger após a retirada, continuou com o seu ritmo normal de escrita, mas escorraçou a publicação da sua rotina, confidenciando à sua quase-ninfeta e amante Joyce Maynard (de apenas 18 anos), com quem viveu maritalmente durante dez meses entre 1972 e 1973, que:
«A publicação é um negócio sujo […] Irás ver a que me refiro um dia. Todos aqueles boçais, opinativos frequentadores de cocktails, tão prontos a julgar. Suficientemente maus quando o fazem a um escritor. Mas quando eles começam a fazê-lo com os teus personagens – e eles fazem-no – é assassinato. […] Trata-se apenas de uma maldita interrupção que eu não posso mais tolerar».
Joyce Maynard, At Home in the World: A Memoir, p.89 (tradução: AMC)
[New York : Picador, 1st edition, 1998, 347 pp.]
Ontem J. D. fez 90 anos, a fazer fé na escassa informação que fugiu do seu escrupuloso escrutínio, deixou instruções quanto à publicação dos seus escritos inéditos. O polémico livro de memórias da sua filha Margaret, Dream Catcher: A Memoir, publicado em 2000, expande não só o ambiente de clausura para dentro da própria casa do autor, como aguça o apetite do mundo salingeriano pelas possíveis obras a publicar num futuro, que a avançada idade do autor deixa entrever, próximo:

«Eu não sei por que razão os seus fatos não cabem no armário do seu quarto. Embora tenha visitado a sua casa por mais de trinta anos, eu nunca vi o seu armário nem o seu quarto de banho. O seu quarto, quarto de banho e escritório formam um “L” à volta da cozinha. A porta permanece sempre fechada. Fui convidada a entrar uma ou duas vezes em toda a minha vida quando ele me queria mostrar alguma coisa no seu escritório. Uma vez para me mostrar umas prateleiras novas com as quais ficara encantado. Outra para me mostrar um novo sistema de catalogação que ele havia engendrado para o material que se encontrava num dos seus cofres. Uma marca vermelha significava, se eu morrer antes de terminar o meu trabalho, publicar isto “tal como está”, azul significava publicar mas só depois de o corrigir e rever, e por aí em diante.»
Margaret A. Salinger, Dream Catcher: A Memoir, p. 323. (tradução: AMC)
[New York: Washington Square Press, 2000, 436 pp.]

E, afinal, para onde vão os patos do Central Park quando o lago gela no Inverno?

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