…mental, por favor, ou a história de um comunista armado em
Redentor milagreiro.
Apesar da minha ausência desta página electrónica por
motivos de força maior – motivos cuja presença se prolongará por um tempo ainda não definido –
não resisti em postar um dos muitos exemplos da ridicularia do comentário e da
crítica fáceis que se instalaram na (in)comunicação social portuguesa e nos
políticos paineleiros que pululam divertidamente pelos estúdios das estações de
televisão para uma pequena subvenção que compense os seus magros salários como
políticos profissionais – jogo preferido: tiro ao Passos e/ou aos seus súbditos.
Que alegre algazarra.
Estava eu sentado a jantar, tarde e a más horas, na
sexta-feira passada em frente ao televisor sintonizado na SIC-Notícias e aquele
seu peculiar jornal do “muito obrigado pela sua presença” e da “excelência de
conteúdos”, quando o inefável Ruben de Carvalho – cada vez mais volumetricamente
próspero –, depois de a estação de Carnaxide ter passado as inacreditáveis
(qualifico a deontologia profissional) imagens recolhidas pela concorrente TVI
sobre a famosa conversa informal entre os Ministros das Finanças de Portugal e da
Alemanha.
Ruben de Carvalho disse, perdigotando uma área aceitável em
seu redor:
«Faz-me vergonha e deprime-me profundamente. Acho inqualificável aquela imagem… enfim… de servilismo, é uma palavra, talvez, extremamente violenta […] não hesitaria em usar a palavra arrogância em relação ao seu outro interlocutor que fala com o seu par, em termos de hierarquia governamental em termos de União, sentado na cadeira, sem ter a gentile… e que inclusivamente se volta de cost… bom, uma coisa verdadeiramente lamentável, o que, digamos, ainda torna mais chocante o agradecimento do Sr. Ministro das Finanças… aliás, um comentário que eu li num jornal – que eu acho que é de uma grande crueldade, mas inteiramente adequado –, é um comentário do coiso que dizem… verificaram se ele estava assente num joelho ou em dois? [risos de escárnio javalinos] Porque de facto a imagem que aparece…»
Fiquei completamente atónito, mas ao mesmo tempo com pena
pela constatação da ignorância que é transversal à classe política portuguesa
(atrevo-me mesmo a asseverar: é mesmo endémica), nessa noite subsumida no
comunista comentador, e sem rectificações, que urgiam, pelo reverencial Mário
Crespo e pelo desconsolado (ou desconsolante) líder da bancada parlamentar do
CDS.
Ora, o tal Ministro das Finanças alemão, é uma figura
mundialmente conhecida pelos seus anos de militância política na Alemanha e pelos
cargos que já ocupou na outrora 3.ª maior economia em termos mundiais, e que se chama
Wolfgang Schäuble.
Herr Schäuble é paraplégico, caro edil.
Num dia de Outubro de 1990 (portanto, se a matemática não me trai, há quase 21 anos e
meio), foi vítima de uma tentativa de assassínio numa acção de campanha
eleitoral no Estado Federal de Baden-Württemberg, perpetrada por um louco que o
brindou com uma salva de três tiros, tendo um deles atingido a espinal-medula,
deixando-o paralisado da cintura para baixo para todo o sempre. Desde a alta
hospitalar, Schäuble desloca-se em cadeira de rodas.
Enfim, ou Gaspar aluga uma e passa a falar com o seu homólogo alemão de
igual para igual – nunca perdendo de vista a autoparaplegia por uma questão
solidariedade de cargos. Ou Rúben de Carvalho necessita urgentemente de um dispositivo
qualquer que induza, em termos intelectuais, os mesmos efeitos que a cadeira de rodas produz em Schäuble.