«Glenn Gould said, "Isolation is the indispensable component of human happiness."» [Contraponto] «How close to the self can we get without losing everything?»
Don DeLillo, “Counterpoint”, Brick, 2004.
terça-feira, 28 de fevereiro de 2006
Em remodelação...
O Cheque que preocupa...
A notícia de hoje do Diário Económico «Cheque-ensino continua a dividir especialistas», pôs uma vez mais a nu a corporação de interesses que continua a pulular pelos estabelecimentos públicos de Ensino Superior em Portugal, enquanto se vai aniquilando o Ensino Superior Particular e Cooperativo.
O descalabro remonta a questões como o fraco crescimento demográfico em Portugal, que se começou a verificar a partir dos anos 80 do século XX, e, acima de tudo, ao “homem das paixões” António Guterres e os seus sucessivos ministros da pasta.
Bem à portuguesa, Guterres resolveu o problema dos numerus clausus, e da demagógica injustiça que daí advém, com o aumento desmesurado de vagas no subsector público da educação superior.
Qual de nós não chegou a ouvir – num tom ufano-paroquial – o antigo Primeiro-Ministro a gabar-se da elevada percentagem de candidatos ao ensino superior que entra nas universidades do Estado?
Por seu turno, a universidades e os institutos ditos privados vão sucumbindo numa lenta agonia provocada pelo regulador do sector que, simultaneamente, é seu concorrente, ou comporta-se como tal.
Será que os contribuintes saberão quanto custa ao erário público – logo, aos seus humildes bolsos – a frequência de um aluno num dos cursos ministrados pelo Estado nas suas universidades e nos seus politécnicos?
Será que os fiéis contribuintes – sujeitos passivos, por definição, mas nem tanto! – saberão que o Estado é assustadoramente ineficiente na administração dos recursos ligados ao sector do Ensino Superior?
Será que os pagadores de impostos saberão o custo por aluno que o Estado português suporta e que é abrangido pelo Orçamento de Estado em cada ano?
Em 2005, o «custo por aluno do ensino superior suportado pelo Orçamento de Estado (…) deverá acender aos 5.237 euros, mais quatro por cento do que ano passado (5.040 euros).»
Marçal Grilo e António Vitorino são contra a implementação do cheque-ensino – ler a notícia do DE.
Pudera! Nós pagamos o ócio dos senhores professores Catedráticos e Associados do ensino público, que leccionam entre 4 a 9 horas de aulas por semana e auferem vencimentos de topo de escalão na função pública – apenas um exemplo, um Professor Catedrático é equiparado a um Juiz Conselheiro em termos remuneratórios.
Depois vêm as endogamias, as cadeiras-fantasma, as fracas assiduidade e pontualidade, o incomportável contingente de alunos por turma, o desinteresse do agente porque o principal é o Estado – essa figura abstracta – e não o colega que o administra na altura, etc.
Enfim, este é o (E)estado do nosso ensino superior!
Não vale a pena negar as evidências, façam as vossas contas!
Que se compare o custo de um aluno a frequentar o ensino privado com o custo de um aluno num curso equivalente a frequentar o ensino público. Haverá surpresas? Claro que não? Mas na santa corporação jamais se poderá mexer!
Eu como contribuinte exijo: O Cheque-ensino já!
Putanheiros!
Em Julho de 2004 fui à Fnac – do GaiaShopping para os mais curiosos – para mais uma viagem consumista pela literatura, música e cinema.
Em destaque, tal como hoje, postava-se um livro editado pela Bertrand com a “Mona Lisa” na capa e o nome de um senhor – até então por mim desconhecido – chamado Dan Brown.
Disponível estava já a 9.ª edição, e isto para um livro que havia sido editado em Maio ou Junho desse mesmo ano. Já ouvira falar dele, mas por mero acaso ou por puro desinteresse não o havia adquirido.
Nesse dia – lembro-me agora, era uma sexta-feira – comprei-o sem problemas de consciência ou qualquer remorso.
Após ter regressado a casa, abri a badana, li a sinopse, e reli as frases curtas de ode sensacionalista que jornais e revistas de reputada crítica lhe haviam feito.
Não resisti e comecei a lê-lo…
No domingo estava lido. A partir daí teci-lhe os mais elogiosos comentários, recomendei a sua leitura e quase que obriguei os renitentes a lê-lo. Ao mesmo tempo li de enfiada mais de 10 livros de não-ficção, muitos deles com o carimbo de científico, sobre o tema em questão: Quem eram os templários? Jesus teria sido casado? Qual o verdadeiro papel de Maria Madalena no destino do Homem que mudou o mundo há 2000 anos atrás? O Graal existiu? Sob que forma? Quem começou a lenda da taça sagrada que albergara o sangue de Cristo? E os Cátaros, quem foram? Qual o papel de figuras como Filipe IV de França (o Belo), São Bernardo, Hugues de Payens, Jacques De Molay, etc.? O que são os Evangelhos Gnósticos? Existiram na realidade? E por aí fora…
Depois de ler a putativa descodificação de Simon Cox, centrei-me na leitura de Holy Blood, Holy Grail dos autores Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincoln – donde supostamente surgiu o nome do personagem de Dan Brown “Leigh Teabing”, este último como anagrama de Baigent, o erudito professor inglês que vive em França, no sumptuoso castelo. Este livro, cujos autores haviam pretendido que fosse mais científico do que especulativo, formula uma série de hipóteses que se pretendem provar. No final as hipóteses que nos pareciam provadas, são deixadas em aberto à consideração do leitor – uma obra menor, que suscitou polémica no ano da sua publicação, 1982, no Reino Unido.
Dan Brown, através da sua obra, utiliza argumentos defendidos pelos 3 autores, assim como de variadíssimos autores que especularam sobre assuntos fundamentais que enchem a trama do romance: Margaret Starbird, Elaine Pagels, Lynn Picknett & Clive Prince, etc.
Por outro lado, Brown cita a obra e os seus autores, referindo-se na voz do personagem Leigh Teabing como os grandes divulgadores de uma corrente esotérica que fluía dentro de uma alegada organização secreta denominada por Priorado do Sião.
O grande facto é que “O Código Da Vinci” já vendeu mais de 25 milhões de cópias em todo o mundo e prepara-se para ser exibido nas salas de cinema de todo o planeta a partir de meados de Maio, produzido pela milionária indústria de Hollywood.
Brown transformou-se num multimilionário – tal como J. K. Rowling e o seu Harry Potter – e deu a ganhar muitos milhões a outros autores, que se multiplicaram como cogumelos, através da publicação de apologias ou de repúdios com demonstrações científicas ou para-científicas e, note-se que não despiciendo, potenciou as vendas de livros já antes editados que há muito não possuíam mercado para venda. Ora, foi precisamente isso que se sucedeu com o agora internacionalmente famoso Holy Blood, Holy Grail, que, quem sabe, deu aos 3 autores muitos milhões em direitos de autor que pensariam jamais arrecadar.
Uma vez mais fica demonstrada à saciedade a mesquinhez da natureza humana. Baigent, Leigh e Licoln além de sofrerem de uma inveja atroz pelo facto da escassez do seu espírito literário não lhes haver permitido romancear a história contada e torná-la apelativa ao público – veja-se esta brilhante citação do “gigante” Anthony Burgess (encontrada aqui) «It is typical of my unregenerable soul that I can only see this as a marvellous theme for a novel.» quando recenseou esta obra no jornal The Observer –, sofrem de uma cupidez desmedida pelos proventos de Brown, tentando usar, por direito, os meios judiciais para arrecadar mais uns tostões que não quiseram ou não souberam ganhar.
Confesso que estou cheio deste mundo de Putanheiros!
PS – Para mais informações sobre este caso ver este artigo do New York Times.
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006
Só para recordar!
O que é a História?
«s. f.,
estudo e narração sistemática do passado, dos factos (sociais, económicos, políticos, intelectuais, etc. ) considerados significativos;
ciência, ramo do saber que regista, explica e transmite o conhecimento sobre o passado;
o curso dos acontecimentos e dos factos históricos;
a evolução da humanidade;
estudo científico de uma evolução;
estudo das origens ou progressos de uma arte ou ciência;
o passado (do Homem, da Terra, de um indivíduo, de uma instituição, etc.);»
in Dicionário da Língua Portuguesa On-Line, Priberam
Esta pequena introdução surgiu só para reforçar a ideia que valter hugo mãe quis transmitir no seu recente texto – em forma de lembrete – «O Mito de Che Guevara».
É curioso observar as manifestações dos fervorosos pacifistas antiglobalização. De cara tapada, carregam garrafas de gasolina, arrolhadas por pequenos rastilhos de pano humedecidos no líquido que ela contém. Vestem roupa de marca, made-in-countries-which-exploit-child-labor, bem disfarçada de humilde, é a tendência streetwear. Símbolos da paz, “A’s” fechados em círculos, foices e martelos e Che… Sempre Che, de estrela no frontispício da sua boina. O Ernesto argentino, amigo de Fidel o cubano, armado aos cucos de Simão Bolívar. Mataram-no! Ai o pobre desgraçado! Ladrão que rouba ladrão…
Vejo-os em Davos, como os vi em Seattle ou em Génova. Ferem polícias pela paz! Oferecem-se como alvos para defender o Iraque de Saddam! Vestem Guevara pela pacificação do mundo…
Por que motivo não usam t-shirts estampadas com a figura que irradia bonomia, da paz no seu tempo, chamada Neville Chamberlain, ou então, do resoluto Édouard Daladier!?
Por que razão não substituem as mofentas t-shirts de Che pela estampa do pacifista-mor do nossa república, investido das funções de MNE, Freitas do Amaral?
Q.E.D.
A sangue frio
15:47, sala 3, ouço Dusty Springfield a cantar “The Windmills of your Mind”, o sangue que me fervia vai arrefecendo assim que me sento no K-7 arrendado 2 minutos antes por 4 euros. Era ainda Neil Jordan e seu último “Breakfast on Pluto”.
Holcomb, Kansas, 15 de Novembro de 1959…
Havia prometido que, após o recordar da obra que lhe deu o mote, veria o filme. Assim foi, ontem à noite depois da minha frustração portista, ainda encrespado e em pleno estado de efervescência li de uma só vez a 4.ª parte, “O Canto” - para a ironia ser completa só faltava chamar-se "O Livre"!
O filme vale sobretudo pelo, quase sempre brilhante, Philip Seymour Hoffman. Recordei-me de imediato de filmes como Magnólia, Happiness, O Talentoso Mr. Ripley e o seu curto papel em O Dragão Vermelho, entre outros, que provam a polivalência deste actor em potência. Dá-me vontade de rir a co-nomeação de Heath Ledger pelo pobrezinho Brokeback Mountain…
Depois da leitura do “Romance de Não-Ficção” vi o seu making of transmutado em filme. Trata a busca desesperada de um conceituado autor para que a inexorável realidade consiga fazer terminar o seu romance, que acabou por se transformar no seu canto do cisne.
Apreciação a sangue frio: *** (bom)
Felicitações!
Trata-se d’O Insurgente, um blogue colectivo, sério e pertinaz na defesa das causas que consideram justas e na criteriosa rebeldia que os seus autores apõem na defesa de um sistema político, económico e social mais equitativo e… liberal, claro!
Um abraço e votos de muitos e continuados sucessos, deste V. leitor atento,
André Moura e Cunha
Breve declaração de um...
“Adriaanse ga weg, alstublieft!”
Não se pode jogar com 4 gajos na frente sem um jogador criativo – na posição do antigo n.º 10 –, que lhes faça chegar a bola!
domingo, 26 de fevereiro de 2006
D. Pombinha, a perversa
No ano passado o clube da ética futebolística fez algo de pior e que poderia ter culminado numa tragédia: aquartelou cerca de 3.500 adeptos portistas num espaço que apenas comportava 1.000 espectadores.
A imprensa manteve-se calada num silêncio ensurdecedor que tresandava a compadrio ou a repentina cegueira aguda. Nos dias seguintes jamais se falou no assunto. Porém, o famoso Guarda Abel continua na berlinda decorridos 12 anos, esquecendo-se a vergonhosa arbitragem de Carlos Valente e o seu futuro promissor quando arrumou, em definitivo, as botas e o apito.
sábado, 25 de fevereiro de 2006
Provocação
O que mais me irrita naquela infeliz manchete não é a revelação daquela evidência irrefutável, não se trata de matéria especulativa, nem de alguma novidade, mas a provocação incendiária subjacente e a minha reminiscência do descaramento dos jornalistas desportivos quando afirmam, do alto da sua torre marfim, que são os dirigentes que ateiam a revolta dos adeptos desse fenómeno de massas chamado futebol.
Aquela manchete porca e ignóbil é digna de um verdadeiro pasquim, no seu sentido mais restrito do termo, embarcando, activa ou passivamente, o bigodoso director num periodismo eminentemente panfletário que, no meu entender, interessa expurgar, ou então, que se assuma de uma vez como o defensor do clube do regime, aliás como o foi outrora e que, segundo reza a história, foi criado com esse fim.
Basta!
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006
Lágrimas escarninhas #4
A fotografia por si só diz tudo, e tal como refere vhm, eu «Lembro-me de ver esta fotografia há bons anos, incrédulo como ainda hoje.»
Apêndice (muito a propósito):
Porém, recordo-me agora, o facto mais curioso que ocorreu com esse contraditório retrato, que emana radiações de genuína e adulterina lubricidade, foi a sua nomeação para o primeiro prémio da pretérita Noite da Má-Língua na SIC, que, na altura, contava com a apresentação da estridulosa Júlia Pinheiro e com os maledicentes Miguel Esteves Cardoso, Manuel Serrão, Alberto Pimenta e a jornalista já falecida Helena Sanches Osório. Se bem se lembram tanto o terrífico cenário, como o pungente troféu foram desenhados pelo hiperactivo Tomás Taveira.
Na semana seguinte, José Cid foi ao estúdio de Carnaxide com o objectivo de receber o prémio em directo no referido programa, e isto perante a aparente fleuma dos maledicentes de serviço e da histeria cacofónica de Júlia Pinheiro. Entre muita coisa que foi dita e outra que ficou por dizer, o saudoso MEC havia alegado que Cid tinha sentido a necessidade de expor o seu corpinho para mostrar que se tratava de facto de um homem inteiriço e não de um conjunto de peças deficientes. Depois, referiu que aquilo que ele escondia com o disco era equivalente à música que ele interpretava.
«Pois, eu pus um disco… Mas, ao Miguel bastaria uma caneta!»
MEC apenas não respondeu, mas ao mesmo tempo que se voltava para os seus companheiros, perguntou: «Mas o que é que ele está para ali a dizer? Não percebi!?»
O Mestre desce a Lisboa!
Via este texto de Ricardo Gross no blogue Mundo Pessoa, tomei o devido conhecimento da notícia publicada na edição de hoje do Jornal de Notícias.
A notícia é entusiasmante para um fundamentalista austeriano como eu.
Aqui fica um pequeno excerto do artigo do JN que, tenho a certeza, aguçará o apetite dos devoradores de Auster:
«(…) sabe-se, para já, que parte de um fragmento de “O livro das ilusões” um romancista, Martin Frost, vê a sua mulher definhar à medida que avança na escrita da mais completa narrativa de sua autoria. Só com a morte da esposa Frost se apercebe da íntima relação causal e vê-se forçado a queimar o manuscrito para ressuscitar a amada.»
Também em 2007 – talvez no início do ano –, o Mestre lançará um novo romance intitulado “Travels in the scriptorium”. Por cá, neste venturoso país, ainda nem sequer chegou a tradução do seu último romance “Brooklyn Follies”.
A propósito de Auster, ver o que aqui foi dito.
Já falta pouco
A não perder a entrevista com o realizador Ron Howard concedida ao programa “Today” da cadeia norte-americana NBC, onde Howard, no seu trabalho de montagem, mostra um pequeno trecho do início do filme, quando Neveu e Langdon tentam descodificar a mensagem deixada no plexiglas que protege a “Mona Lisa” de Leonardo.
Já falta pouco para 18 de Maio.
O embuste
Tantos encómios, louvores, prémios e galardões, e só me resta uma palavra para classificar o último filme do taiwanês Ang Lee chamado “O Segredo de Brokeback Mountain”: medíocre.
A novidade – e não originalidade, porque considero que este termo só deverá ser aposto a uma obra digna desse epíteto – da relação homossexual entre dois sheepboys por si só não justifica os metros de celulóide despendidos.
Se no papel Jack fosse Jacqueline Twist, desempenhado por exemplo por uma quase sempre andrógina Hillary Swank, ouviríamos a crítica a torpedear o filme de Ang Lee como “mais uma comédia romântica, descartável, para o entretenimento das massas” ou “é apenas um mero produto da catarse de um povo que vive oprimido pelas agruras quotidianas das suas vidas de classe média” ou até por uma proposição redutora de “parolo e sensaborão”, e por aí em diante.
Já sei o que estarão a pensar, este exercício é puramente demagógico e falacioso, uma vez que é precisamente na relação homossexual entre dois canastrões de chapéu de cowboy que se encontra o âmago do filme. Logo, retirar isso seria a mesma coisa que colocar Hannibal Lecter como um vegetariano empedernido.
Admito que sim. Porém, irei apenas focar dois pontos que não poderão ser considerados como simples pormenores:
- Péssimo elenco – isto se exceptuarmos o experiente Randy Quaid, embora pouco relevo tenha no filme. O australiano Heath Ledger – Ennis del Mar – é um actor sofrível, sem profundidade, sem eloquência, sem o necessário carisma ou até charme para representar um grande papel – vamos a ver se tudo isto será confirmado no seu antagónico papel de Casanova, de Lasse Hallström. Jake Gyllenhaal – Jack Twist – promete, mas não passou da simples mediania nesta película cujo argumento, em abono da verdade, também não ajudava. Considero-o um actor em potência – e note-se que tem apenas 25 anos, traduzindo-se pela a adolescência de um actor na máquina dos sonhos da Academia de Hollywood, de notar que o Óscar para melhor actor raramente desce os 30 anos; estou expectante pela sua performance no próximo filme do mestre Fincher – “Zodiac” – ao lado de Gary Oldman e Robert Downey, Jr.
- Um argumento paupérrimo, sem chama, sem genialidade ou momentos de brilhantismo. Larry McMurtry – que já arrecadou um Pulitzer – é o homem que adaptou a história escrita para a revista New Yorker pela também Pulitzerada E. Annie Proulx. McMurtry é também conhecido nas lides artísticas pela autoria do romance “Laços de Ternura”, no qual se baseou o filme com o argumento adaptado pelo, esse sim, genial James L. Brooks, e que pôs meio mundo de lágrimas nos olhos. Contudo, mais do que os adjectivos, convém atentar no primeiro diálogo do filme – imenso em silêncios que nada conseguem traduzir – entre os dois amásios protagonistas:
«Jack: Jack Twist.
Ennis: Ennis.
Jack: Your folks just stop at Ennis?
Ennis: Del Mar.
Jack: Nice to know you, Ennis del Mar.»
Se há coisa que me irrita é esta falsa piedade pelas vítimas dos pretensos homofóbicos. Prefiro mil vezes ver a série de televisão britânica “Queer as Folk”, criada por Russell T. Davies, transmitida até há bem pouco tempo pela 2:! Aí, pelo menos, não há subentendidos e pretensas lições de moral, mostra-se a homofobia como ela é na actualidade.
Na madrugada de 5 para 6 de Março, sentar-me-ei no meu sofá e adoptarei uma pressuposta postura de “anti-Brokeback-Mountain”.
[Adenda] - Seria deveras injusto não referir aqui o final do filme, não por uma questão de simples alívio, mas pela excelente canção interpretada por Willie Nelson, e escrita por Bob Dylan, “He was a Friend of Mine”.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006
A não perder…
[Via este texto de FJV no seu blogue A Origem das Espécies]
Em releitura...
A seguir, quando houver tempo e uma avó paciente para cuidar da minha filha pela noite dentro, irei ver o filme de Bennett Miller, baseado no livro de Gerald Clarke “Capote: a biography”, e acima da tudo, ao que parece, conta com a soberba interpretação de Phillip Seymour Hoffman.
Nuclear sim, obrigado!
Recordo-me da discussão que este tema gerou há uns anos, numa altura que Chernobyl pairava como um sinal de aviso aos países que recorriam a este tipo de energia. Lembro-me, também – apesar da minha púbere idade na altura –, que era manifestamente contra a instalação de uma Central desse tipo em território português, alinhando a minha opinião pela dos ecologistas e do activíssimo PPM – não tanto pela Lena D’Água e a salgalhada de frutas que poluíam os nossos preciosos ouvidos.
Hoje, porém, a energia nuclear revela-se como um excelente sucedâneo à energia produzida pelos combustíveis fósseis por diversas razões.
Em primeiro lugar, a energia produzida pelos derivados de petróleo é extremamente poluente e tende a destruir, de forma irremediável, o equilíbrio do nosso ecossistema, produzindo-se, com maior frequência, fenómenos naturais catastróficos e paradoxais: secas, cheias, tempestades, ciclones, furacões, etc.
Em segundo lugar, a dependência energética das economias ocidentais face ao petróleo é por demais assustadora. Não nos esqueçamos que os grandes produtores de petróleo são países cuja instabilidade política e/ou o fundamentalismo religioso impera. De um lado temos os países árabes que, frequentemente, utilizam o petróleo como instrumento de chantagem para fazer valer a cumplicidade ocidental sobre regimes totalitários e teocráticos – veja-se o caso da Arábia Saudita, para já nem falar dos restantes, esses sim verdadeiramente hostis. Por outro, temos países grandes produtores que usam da sua influência política não só para fazer aumentar o preço do ouro negro, como também para afrontar as democracias ocidentais mediante a recordação de velhos medos que marcaram a sangue o nosso mundo e abriram feridas que levarão séculos a cicatrizar; neste caso incluo, como parece óbvio, a Venezuela – 4.º produtor mundial de petróleo – que o utiliza como uma arma de arremesso àquilo que um tirano com Hugo Chávez denomina por capitalismo selvagem – que é, de certa forma, o nosso estilo de vida, para o bem e para o mal.
Finalmente, um último motivo. O avanço tecnológico permitiu conferir um elevado nível de segurança às outrora denominadas por máquinas de destruição simbolizadas nas centrais nucleares. Está provado que de facto são seguras, dispondo de mecanismos de segurança eficazes, se verdadeiramente monitorizadas e cumpridos os manuais de procedimentos mínimos. Por exemplo, considero mais perigoso residir nas cercanias de uma refinaria de petróleo, contaminadas pelos gases que, fatalmente, se libertam do processo de refinamento, assim como, da autêntica bomba relógio que passa sobre as nossas casas na forma de oleodutos ou gasodutos. Dou como flagrante exemplo a refinaria da Petrogal situada em Leça da Palmeira, que convive, a paredes-meias, com condomínios de luxo para habitação, construídos com o beneplácito das autoridades – quer centrais, quer locais –, devido à forte pressão exercida pelos agentes ligados à construção imobiliária.
Apesar de tudo o que aqui foi referido, há, no entanto, algo que me preocupa e que ainda não vislumbrei uma explicação, ou até uma solução, cabal e inequívoca: o que fazer aos resíduos produzidos pelas centrais nucleares?
Portugal é o país da União Europeia mais dependente do petróleo, logo o maior refém de um directório, que se designa por OPEP, que funciona como um verdadeiro cartel, legalmente constituído e aceite, influenciando as economias dos países desenvolvidos que, inelutavelmente, pertencem ao nosso mundo.
As grandes barragens e as mini-hídricas não são suficientes e têm efeitos colaterais igualmente nefastos, como por exemplo o desassoreamento e a consequente degradação da costa marítima. Porém, há alternativas, sou inteiramente a favor da proliferação das energias renováveis, designadamente da eólica, da solar e da subaproveitada energia das marés – facto agravado por se tratar de um país com 800 km de costa –, todavia creio que Portugal não pode esperar mais e tem que se desenredar dessa camisa de forças que se chama petróleo, sob pena de um colapso político, económico, financeiro, social e tecnológico do qual jamais se erguerá.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2006
Pequenos apontamentos futeboleiros
Na SIC-N um jornalista – do qual não sei o nome – apresentava, no exterior do Estádio da Luz, a chegada dos adeptos do Liverpool. Enquanto discorria sobre as vicissitudes do jogo que se iria desenrolar daí a uma hora, entusiasmou-se e chegou a dizer numa incontida paixão:
«Liverpool, sem dúvida, é a melhor equipa em competição…»
O jogo já se desenrolava e caminhava inexoravelmente para o final da 1.ª parte. Os comentadores de serviço da RTP, entre os quais se inclui o erudito Gabriel Alves, não cabiam em si de contentamento e excitavam-se sempre que a bola ultrapassava o meio campo em direcção à baliza do Liverpool. Para além disso, a pérola futeboleira estava prestes a chegar. Quando o árbitro austríaco deu 3 minutos de compensação, Gabriel Alves na sua compulsão comentadeira disse:
«O árbitro ajuizou bem! Os 3 minutos justificam-se, foi muito bem minutado…»
De repente, dei por mim a corar, pensando ter ouvido outra coisa!
Enfim, são estes os habituais quase-cunnilingus do inefável e imparcial Gabriel!
É preciso ter calma…
Para além do princípio da presunção da inocência, Rui Rio sempre pode ter sido intimado para responder pelo eventual cometimento de um crime de injúria, de calúnia ou de difamação, o que não me admiraria nada dada a sua incrustada característica de incontinência verbal.
Logo, neste caso, o Rio poderá parir um rato!
A ver vamos!
Novo blogue
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006
Estado Civil: Desavindo
Agora mesmo, quando navegava na minha blogosfera de referência dei com um Estado Civil, de Pedro Mexia, profundamente divorciado dos sinais diacríticos da nossa língua: tis, cedilhas e acentos.
Alguém, por esse mundo fora, anda a boicotar o idioma de Camões. O mais curioso é que se for uma prática terrorista, certamente não será provinda do Islão, dada a posição do nosso mais recente Ayatollah, Freitas do Amaral!
Certo dia, alguém me afirmou que o som produzido pelo nosso idioma – português de Portugal – se assemelhava em muito ao russo, dada a excessiva quantidade de vogais mudas. Eu não só não refutei essa asserção, como a confirmei relatando a tendência natural do português bem-falante para fechar as vogais.
- A palavra “mestrado” deveria ter um “e” aberto, mas normalmente pronunciamo-la com “e” fechado;
- A terrível regra de eliminar o som de um “i” quando a palavra é composta por duas sílabas consecutivas que incluem essa vogal: ministro deve-se pronunciar “menistro”, difícil deve-se pronunciar “defícil”;
- As palavras alcoolemia e hipoglicemia não são acentuadas na antepenúltima sílaba, porque a sílaba tónica é a penúltima – palavra grave e não esdrúxula – o que convenhamos ajuda a enrolar mais a nossa língua;
- O plural da palavra líder, escreve-se “líderes”, passa de grave a esdrúxula, todavia o “e” da penúltima sílaba deve-se pronunciar fechado – eu pronuncio-o aberto, o que leva muita gente a crer que alterei a acentuação, coisa que não acontece de forma alguma.
Quando há algum tempo atrás iniciei a minha aventura espanhola, tive o cuidado de frequentar um curso intensivo de 20 horas da língua de Cervantes apenas devido ao vocabulário – já que todos os portugueses julgam saber falar castelhano, bastando para isso meter uns “i’s”, uns “u’s” ou uns “e’s” nalgumas palavras portuguesas, saindo autênticas obras-primas de fusão linguística como “españiol” (para español) ou “huera” (para hora). Nesse curso, e confesso a minha pretérita ignorância, aprendi que todas as letras do alfabeto espanhol se lêem sempre da mesma forma, sem excepção, onde todas as vogais se lêem abertas; o que torna a língua muito fácil e acessível, justificando, de algum modo, a sua rápida propagação como alternativa ao inglês universal.
Muito a propósito, deixo aqui um episódio verídico, ocorrido no norte de Espanha protagonizado por um hóspede português num hotel espanhol situado em pleno campo:
«O turista português, a meio da noite, verificou que a sua dificuldade em dormir se devia ao raio da torneira do lavatório no quarto de banho que não parava de pingar. O turista, furibundo, liga para a recepção para que o problema fosse resolvido, e diz, no seu melhor espanhol:
– Por favor, tengo un problema en mi… ¡Hay una ternera que pinga! – diz resolutamente.»
Diz quem assistiu que, em plena madrugada, alguns funcionários do hotel andaram num perfeito alvoroço à procura de um “vitelo pingante” que, alegadamente, vagabundeava pelos quartos do hotel. Só acalmaram quando entenderam que o que pingava era um “grifo” e não uma “ternera”.
domingo, 19 de fevereiro de 2006
Lévy treplica
É uma novela para continuar a acompanhar, sem que ainda se vislumbre a possibilidade de uma definição correcta do número de episódios e muito menos o modo de conclusão da trama: final feliz, tragédia, comédia ou então uma profunda abstracção, com resquícios metafísicos, que concederá ao leitor a liberdade de escolha para a concepção do desejado epílogo.
Porém, ao ler a carta de Lévy, verifiquei que existiam outras cartas à redacção que dissertavam sobre esta polémica, entre as quais houve uma que, desde logo, me saltou à vista, dada a minha condição de fundamentalista pelo meu eterno Ol’ Blue Eyes, The Voice, ou The Chairman of the Board: FRANK SINATRA.
A carta, de poucas linhas, é de Kitty Kelley, a famosa jornalista que nos anos 80 escreveu uma biografia não autorizada sobre o REI, publicada em Portugal pela Dom Quixote, em Dezembro de 1987, sob o nome de “His Way: a biografia não autorizada de Frank Sinatra”.
Sinatra recorreu aos tribunais para impedir a publicação desta biografia, mas mais tarde retirou-a, tendo percebido que o seu acto contribuiu fatalmente para tornar o livro um estrondoso bestseller.
Insondáveis são os caminhos do Senhor, no caso que abriu este texto, a guerra sem quartel lançada pelos críticos do NYT a Lévy, gerou uma corrida furiosa à compra do livro.
Enfim, cenas do admirável mundo actual! É simplesmente o mercado a corresponder quando a estratégia de marketing funciona!
sábado, 18 de fevereiro de 2006
Amanhã acordarei assim…
…Conquistador! Com esta magnífica imagem na cabeça.
De resto, amanhã, só espero não ter que me deitar assim…
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006
Crónicas do País da Impunidade #2
Desta feita nem preciso de discorrer sobre o assunto, já tudo foi dito e bem dito.
Resta-me deixar aqui as ligações para O Acidental e os textos bem reveladores dos apregoados “brandos costumes” e “revolução sem sangue”:
- Gaspar Castelo-Branco – foi decidido esquecê-lo (de 15 de Fevereiro);
- Carta de leitor (de 17 de Fevereiro).
Sem mais comentários!
S. Tomé revisitado
Será verdade? Teremos mais um revisionista entre nós? Ou será apenas o corolário – ou o embrião – do campeonato Euro-Árabe de futebol ambicionado pelo incauto MNE português? Ver para crer!
Freitas emite um comunicado sebento, depois sugere, no seu sensual tom magnânimo, um campeonato de futebol entre árabes e europeus, finalmente é louvado pela Embaixada do Irão em Lisboa… Corolário: Cid retribui com a sua arte!
Poder
Tenho andado bastante ocupado com labores e cogitações que não me dão espaço para escrever… aqui, neste espaço plural a que se convencionou chamar de blogosfera. No entanto, não tenho razões que me façam admirar, a agitação faz parte do meu dia e muitas vezes suplico em vão para que este não se confine às 24 horas de 60 minutos. Preciso de mais tempo!
Introdução
O relógio do meu carro marcava 19 horas, ligo o rádio em 105.3 MHz e ouço a notícia introdutória do pequeno bloco que se segue: o director do jornal 24 Horas e dois jornalistas foram vítimas de buscas domiciliárias e de buscas no local de trabalho, tendo sido apreendidos os computadores e vários documentos.
(Con)Sequência e meditação
Em Portugal o jornalismo de investigação é praticamente inexistente. É caro, dizem uns. Não vende, dizem outros. Avilta os poderosos, digo eu e alguns milhares que não querem ou não podem falar.
Para ser claro atrevo-me a asseverar que, diariamente, há uma chusma de simples portugueses que enfrenta a arbitrariedade, a insídia e a perversidade dos seus pares, vivendo num angustiado silêncio com medo de perder a família, os amigos, o posto de trabalho, o património, a honradez, a felicidade, a saúde, o bom nome e até a sua vida ou a daqueles que lhe são próximos. O dano é irreparável e irrevogável. O mal foi feito e com esse mal terá que viver, quando muito poderá exigir a compensação das horas, dos dias, dos anos perdidos pelo anátema da perfídia.
O qualificativo de uma relação de poder é a hierarquização ou, mais corriqueiramente, a autoridade. Há o mandante e o mandado. O dirigente e o dirigido. O que pode e o que obedece. Porém, há direitos que não se confinam aos primeiros e obrigações que não se esgotam nos últimos; e, se assim fosse, viveríamos numa sociedade eminentemente perfeita, porque a liberdade tem o poder de me conferir o direito de ser livre, contudo – e este é o fruto do problema – atribui-nos a obrigação de deixar que os outros sejam livres.
Em teoria, o paroxismo da liberdade reflectir-se-ia na figura de um asceta, desprovido de relações humanas e em pleno e melífluo convívio com a natureza. No entanto, a própria mente é um mecanismo perverso porque nos impõe limites que se poderão traduzir por uma só palavra: Moral.
Em todas as profissões há normas de conduta e princípios deontológicos, mesmo que não exista um articulado plasmado num chorrilho de artigos profundamente abstractos, que pintam de preto as folhas brancas da pasta extraída das árvores que verdejam o nosso planeta. Essas normas explícitas ou implícitas, exteriorizadas sobre a forma de normas ou interiorizadas como correcção de conduta, terão que ser flexíveis e susceptíveis de interpretação. Não são becos, são vielas que desembocam em ruas e ruas que desaguam em avenidas suficientemente amplas, que nos permitam respirar e viver num todo harmonioso sem dor, sem ressentimentos, sem… INJUSTIÇA.
Conclusão
Os meios de comunicação social são, na maioria das vezes, o instrumento que nos permite gritar ao mundo a injustiça que sobre nós se abateu e para que o mundo a conheça, a sinta, a corporize através da sua divulgação para nos soltar do torpor ou da tremenda indiferença do individualismo dos nossos dias, profundamente egoísta e desumano.
Alguns poderão afirmar que, para além dos jornalistas, há padres, psiquiatras, advogados, procuradores e juízes sobre os quais impende o dever de sigilo. Porém, o padre ouve-me em confidência, e cura-me com uma penitência e com o eventual perdão do Espírito Santo, não mata a minha sede de justiça no mundo, neste mundo onde eu vivo hic et nunc. O psiquiatra aumenta-me a dose de antidepressivos, de ansiolíticos e de antipsicóticos, e carrega, carrega enquanto o mal não for curado, e isso, todos sabemos, que nunca será extirpado, nós é que nos vamos transformando em inadaptados, em perfeitos seres alienados, desprovidos de dor e sentimento: já não sentimos, logo não pensamos nem agimos. Advogados, procuradores e juízes… [espaço propositadamente deixado em branco]
Tudo isto para apenas referir que concordo plenamente com aquilo que o Eduardo Pitta proferiu com este texto, tentando abanar esta comunidade que se indigna facilmente – e felizmente tem todo o direito a isso – mas que, incompreensivelmente, fecha os olhos, ou então, é indiferente para assuntos que nos deveriam preocupar a todos.
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006
Vampiros ressuscitados
É mesmo verdade, ELES voltaram!
O fabuloso quarteto liderado por “O Vampiro” Peter Murphy, Daniel Ash, David J. e Kevin Haskins assustará amanhã no Coliseu do Porto.
Uma vez mais não poderei estar presente, restando-me apenas a hipótese de mais uma reza a Vlad, para que os traga em breve.
Os Bauhaus são a eterna recordação melancólica do meu inexorável processo de envelhecimento. Recordo os meus gloriosos anos 80, quando ainda de púbere idade comecei a apreciar a voz cavernosa de Murphy, as batidas tonitruantes de Haskins, os perenes acordes sísmicos do baixo de David J. e o som inconfundível da guitarra de Ash.
Nasceram para o mundo em 1978 e na década de 80 espalharam o seu feitiço, povoando as mentes dos seus seguidores de uma lugubridade gótica sem par.
Apesar do seu desmembramento em 1983, a sua música subsistiu até aos dias hoje como ícone de uma época e de uma geração que, através da denominada música alternativa ou "som da frente", buscava a válvula de escape que lhes facilitasse a angustiante tarefa de espantar os espíritos de inadaptação que os assolavam.
Depois ficaram as experiências a solo de Peter Murphy que, depois do insucesso do projecto Dali’s Car, editou 7 álbuns de originais – dos quais destaco os magistrais e consecutivos “Love Hysteria”, “Deep”, “Holy Smoke” e “Cascade” – e de David J., e a admirável formação do trio Ash/Haskins/David J. denominado por Love & Rockets – quem não se lembra do “So Alive” e do impressionante instrumental denominado “Saudade”, criado pelo desvelado amor do trio à nossa ditosa e lusa pátria.
A par dos seus contemporâneos Joy Division – com o mestre Ian Curtis na liderança –, os Bauhaus continuam a possuir aquela força que me provocava um arrepio duradouro de delírio ao ouvir as suas obras de arte musicais.
Os que amanhã tiverem o privilégio de os poder degustar ao vivo, são aqueles que jamais os esquecerão.
PS 1 – a propósito Bela Lugosi estará morto?
PS 2 – durante umas semanas permanecerão neste blogue alguns trechos para escuta. Bom proveito!
PS 3 – aos utilizadores do Firefox não sei o que hei-de fazer para disponibilizar uma plataforma que lhes permita controlar a audição nos seus computadores! Aceitam-se sugestões.
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006
Lágrimas escarninhas #3
«Como pode o PR contribuir para a criação de emprego
Notícia na TVI: "Fabricante de medalhas teve de contratar mais pessoal"».
Pedras Rolantes
«SEM PEDIR NADA
FC Porto dá música a Rui Rio
Os "Rolling Stones" no Dragão para descentralizar a música. Lá está o FC Porto a fazer outra vez o que Rui Rio não consegue, não quer ou não sabe como: pôr a cidade no mapa. Agora sem Mourinho.»
Resultado:
Viveremos mais quatro anos de retrocesso, governados por um Presidente de Câmara sem visão estratégica para a cidade, sem vistas largas, gerindo a outrora 2.ª cidade mais populosa do país como uma mera mercearia da esquina.
Este Rio tem vindo a transformar esta cidade num mísero ribeiro que, a continuar neste ritmo, passará, velozmente, a um pútrido charco e se transmutará num deserto onde não se vislumbrará vivalma ou nem sequer um pequeno oásis de esperança nos tempos mais próximos.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006
Nobel sobre Nobel
No último número da The New York Review of Books (Volume 53, n.º 3, de 23 de Fevereiro de 2006) o sul-africano J. M. Coetzee – galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 2003 – recenseia o último romance do colombiano Gabriel García Márquez – galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 1982 – “Memoria de mis putas tristes” traduzido para português sob o nome “Memória das minhas putas tristes” e publicado em 2005 pela Dom Quixote.
O artigo de Coetzee intitulado por “Bela Adormecida” [tradução livre] é um tratado sobre uma parte importante da obra de García Márquez e a recorrente fábula da redenção da alma através da evocação da Virgem, simbolizada numa relação perigosa entre velhos e espúrios príncipes e belas e virginais adolescentes que, com a sua inocência, os assolam como meros espectros simultaneamente lúbricos e fúnebres.
De indispensável leitura!
Um blogue para o Futuro
O nome do blogue é OFUTUROPRESENTE, e torna-se notícia porque um dos seus autores é Jaime Nogueira Pinto.
Segundo o texto de inauguração do novo espaço, este será o «"diário de bordo" da nossa viagem editorial», uma vez que se trata do «blog da revista "Futuro Presente"» com o subtítulo de “Revista de nova cultura”, fundada em 1980 por «António Pinheiro Torres, António Marques Bessa, Vítor Luís Rodrigues, Nuno Rogeiro e Jaime Nogueira Pinto, que tem sido sempre o seu Director.»
A referida revista é de publicação bimestral.
Para ir acompanhando!
A 8.ª potência
Tal como aqui foi dito – num segundo artigo a 5 de Janeiro –, esta notícia não me espanta. O que cada vez mais me espanta é o nosso provincianismo, difícil de expurgar, plasmado no célebre adágio que “De Espanha nem bom vento, nem bom casamento”.
Só quem por lá passou e viveu – como é o meu caso – consegue vislumbrar a dinâmica de um povo empenhado no verdadeiro fortalecimento e engrandecimento da sua economia, que, apesar de tudo, emana de um forte espírito nacional. Poder-se-á apontar a forte tensão territorial existente entre as autoridades de Madrid e determinadas regiões autónomas, como são os casos do País Basco e da Catalunha. Todavia, a autonomia dessas regiões é uma realidade e que funcionou como um verdadeiro catalisador para que se tenha logrado alcançar o desiderato de um desenvolvimento sustentado e harmonioso do país por inteiro.
Para que não restem dúvidas veja-se a infografia publicada hoje na referida revista, na qual se poderá observar que apenas as regiões autónomas da Extremadura e da Andaluzia estão a par de Portugal – com a honrosa excepção de Lisboa e do Algarve – no nível de riqueza medido pelo rácio PIB per capita a preços correntes referente ao ano de 2002.
(clique aqui ou na imagem para aumentar)
Esta tendência tem vindo a observar-se há anos e parece-nos que, fatalmente – lá está o nosso fado! –, jamais se conseguirá inverter, ao contrário do forte crescimento da economia portuguesa ocorrido nas décadas de 80 e 90 do século passado.
Muitas razões poderão ser aventadas, porém há duas que aqui destaco: (1) a transição pacífica para a democracia após a morte de Franco e (2) a estabilidade governativa que a partir daí se verificou com apenas 4 Governos em 30 anos de democracia – tal como aqui referi no primeiro artigo postado em 3 de Janeiro deste ano.
Portugal, Quo Vadis?
PS – convém não esquecer o forte desenvolvimento do sistema de ensino espanhol, destacando-se escolas como o Instituto de Empresa (Madrid), a IESE (Universidade de Navarra, em Barcelona e também em Madrid) e a ESADE (Barcelona) que começaram a marcar presença em anos consecutivos no top 50 que classifica, mediante determinados critérios – que variam de publicação em publicação –, a excelência de escolas de negócios a nível mundial.
domingo, 12 de fevereiro de 2006
Mega Kitsch!
Como no nosso mundo, quer se queira ou não, o dinheiro é um recurso escasso, optei por ir lendo outros jornais e revistas que possuem uma qualidade superior para excitar as minhas ondas cerebrais, por recurso ao meu, felizmente, saudável nervo óptico.
Assim, para minha desgraça – fazendo fé neste texto do BlogCafé – perdi mais uma Mega prosápia do António – da mesma magnitude que a soberba – Ferreira.
Então, segundo o BlogCafé, AMF discorre na sua crónica – creio que quinzenal, alternando, ironicamente, com o Grande Mestre Lobo Antunes – sobre a sacrílega apropriação de Mozart pelas massas – que horror:
«De resto, a generalidade da imprensa dedicou generoso espaço ao Geburtstag do nosso compositor e todos, em uníssono, ameaçam fazer do “Ano Mozart” um cortejo infindável de edições, celebrações, eventos, citações e homenagens que correm o risco de provocar uma autêntica indigestão cultural. Numa palavra: Mozart pode transformar-se, também em Portugal, naquilo que já é em muitos países - um produto kitsh.»
Após a leitura destas doutas linhas de sapiente e legítima indignação, recordei-me de uma célebre frase de Banville – que ele reporta como um aforismo – no seu excepcional livro de 1997 “The Untouchable”, traduzido para a nossa língua por Helena e Artur Ramos sob o nome “O Intocável” e publicado em 1998 pela Dom Quixote:
«Aforismo: o Kitsch é para a Arte o que a Física é para a Matemática: a sua tecnologia.»
Já que actualmente muito se discute a “liberdade de expressão”, eu proponho que se extinga a livre escolha dos gostos artísticos, por exemplo punindo severa e exemplarmente os difusores da música de Mozart, ou então, que se parta para uma profunda reflexão, como Banville também refere no mesmo livro, sobre a «Teoria do Declínio da Arte Sob o Domínio dos Valores Burgueses».
Valha-nos… Mega!
sábado, 11 de fevereiro de 2006
Um mundo de iniquidade
O vencedor da melhor fotografia do ano de 2005 foi o fotógrafo canadiano Finbarr O'Reilly com esta fotografia:
© Finbarr O’Reilly, Reuteurs
(clicar aqui ou na fotografia para a ver em tamanho superior)
A fotografia foi tirada no passado dia 1 de Agosto num centro de alimentação de emergência, situado em Tahoua, no Níger.
Uma pequena mão de uma criança parece querer refrear o ímpeto esfaimado da boca da sua mãe, que se lhe vislumbra naquele olhar profundo e rendido à dura batalha da subsistência diária.
Um enredado nó formou-se-me na garganta, apertando-a de tal forma que se me assolou um sentimento de incredulidade e, acima de tudo, a repugnante consciência da minha confortável e burguesa impotência.
Queria-te dar um grama de esperança por cada mililitro de lágrima derramada, mas não consigo libertar-me deste cómodo torpor… Não consigo!
Crónicas do País da Impunidade #1
Através deste artigo do Manuel da Grande Loja do Queijo Limiano tomei conhecimento de uma verdadeira história rocambolesca que tem como protagonistas um tal indivíduo, pouco recomendável – fazendo fé nas notícias –, de nome Francisco Farinha Simões e a jornalista da TSF e ex-mulher de Emídio Rangel – amigo do primeiro – Margarida Marante.
Esta história de contornos fílmicos vem relatada num artigo de ontem no jornal Correio da Manhã.
Como é que alguém que foi preso, e diga-se devido a um rol verdadeiramente assustador de crimes cometidos, e que, neste momento, se encontra em liberdade condicional – e destaque-se esta palavra, cujo significado vem em qualquer dicionário da língua portuguesa – goza desta perfeita liberdade de acção, roçando as raias da, tão portuguesa, impunidade?
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006
A Equipa Dourada
«Facto insólito o que ocorreu hoje de manhã no Estádio Nacional, a anteceder o treino do Benfica. Ainda antes da habitual prelecção do técnico Ronald Koeman, Mantorras abandonou o relvado na companhia de Shéu para no exterior do estádio receber uma intimação policial, cujo conteúdo e ou implicações se desconhecem, por, ao que tudo indica, ser uma questão do foro pessoal.»
O canalha
Liberdade de expressão!
E, com toda a desfaçatez, diz que nunca visitou Portugal!
Iria, se não tivesse fechado no ano passado, ao Consulado Britânico, situado menezolândia, munido de umas garrafas de “Casal Garcia” – vazias de vinho e cheias de um rosé colheita de 98 octanas, claro! – e entretinha-me a queimar aquela bandeira cheia de cruzes e cores, a partir uns vidritos das janelas e, quiçá, a vandalizar o seu interior. Claro que, nesse caso, não poderia faltar uma pilhagemzita do seu espólio para encaixar na minha modesta casinha. Nem uma Bic escaparia à minha fúria!
Depois telefonava ao MNE Diogo para ele emitir um comunicado de desagravo. Regressaria a casa, com “A Bola” debaixo do sovaco e passaria horas a tentar encontrar o código subliminarmente oculto nos caracteres que compõem aquelas obras-primas da literatura profusamente herméticas.
A A Gill não perdes pela demora, ó pacóvio!
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2006
Tudo o que eu quis dizer sobre DFA…
O artigo de hoje de Francisco José Viegas no Jornal de Notícias é pequeno mas mordaz, facilmente inteligível mas de uma acuidade extrema, conjugando o seu intrínseco dom da escrita com as habituais sensatez e correcção na corporalização dos seus pensamentos.
Bravo!
COMUNICADO - CONVITE
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006
Menoridade
Vinte anos volvidos, congratulo-me pela inocente menoridade que não me conferia o direito de voto.
Só não entendo o comportamento de alguém que ficou barricado num célebre comício do CDS no Palácio de Cristal.
Este homem jamais falará em meu nome e muito menos através de um COMUNICADO que, descarada e ostensivamente, não condena os actos criminosos perpetrados por fundamentalistas contras as embaixadas de países que connosco partilham um espaço comum, onde o debate de ideias é livre, democrático e plural, que se designa por União Europeia.
A não perder: fatwa a Camões!
Após uma cuidada leitura do artigo e fazendo fé nas palavras de Alexandre – ao contrário do que costumo fazer neste blogue não postei as iniciais porque transformaria o nome do autor num acrónimo pouco agradável –, cheguei à seguinte conclusão:
Se isto é Maomé…
…a partir de agora sou islamita!
terça-feira, 7 de fevereiro de 2006
Cristo e Moisés vs. Maomé
Quanto a Cristo – e por uma questão de proximidade religiosa –, creio que, nas artes de caricaturar, satirizar e desmistificar, não há figura na História das religiões que tenha merecido mais citações.
Para começar recomendo uma visita a este sítio – que, confesso, por razão de algum decoro me levou a não postar os trabalhos nele inseridos – de uma fundação gay finlandesa, de nome Tom of Finland Foundation, onde se poderá ver uma imagem da autoria de um tal Claudio Tessari intitulada por “Christ Cock”. A mesma Fundação galardoou, em 1995, um truculento transsexual de nome Garilyn Brune com o Grande Prémio da Arte Erótica pelo seu trabalho “CockSuckers for Christ” (ficheiro PDF – ver página 1).
Em segundo lugar, vem este “Piss Christ” de Andrés Serrano, que inclusivamente esteve exposto - é certo que à revelia dos organizadores do evento - no Instituto Smithsonian. Esta representação de um crucifixo mergulhado num tubo de plástico com urina e sangue do próprio fotógrafo já foi reproduzida aqui por Afonso Bivar no seu blogue Bombyx Mori.
Finalmente, apresento alguns de centenas de cartoons, que surgiram de geração espontânea em alguns jornais, onde se dá a total liberdade de expressão, sem que com isso se assaltem embaixadas e se queimem bandeiras:
Morning Call (Pennsylvania) – 24 de Março de 1997
Notas:
(1) Os 4 cartoons foram retirados do sítio da associação norte-americana “The Catholic League for Religious and Civil Rights”, onde se expõe de maneira honesta e pacífica, através de uma publicação anual – num tom de alerta à comunidade religiosa e não religiosa –, os atentados contra a fé cristã em geral, e a Igreja Católica em Particular.
(2) Editorial: em termos meramente estatísticos, sou católico porque fui baptizado – é certo que sem hipótese de escolha, já que tinha apenas 6 meses –, porém nesta fase da minha vida, por razões que aqui não interessam, tenho-me vindo a afastar – para profundo e incomensurável desgosto do meu pai – dos conglomerados religiosos manifestamente arquitectados pela mão humana e tentar entender, à luz da razão e de profundas introspecções, essa entidade que é Deus – sem, com isso, negar a preponderância da emotividade nesse estado dubitativo em que me encontro no momento.