quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Um DeLillo por Bolaño

Ele é por e-mail, por banners publicitários em flash, por blogues arregimentados à causa comercial sob a capa do prazer estético-literário, por t-shirts, pins, marcadores ou posters com a cara cadavérica do sujeito, pela conversa de circunstância leitor-livreiro de pseudo-douto-aconselhamento, que só falta mesmo o papel higiénico Renova negro de folha dupla com o fácies do malogrado escritor chileno chupando sofregamente um pitillo, enquanto profere “por favor, ler antes de borrar” (e aqui deixo ficar bem vincado um apelo à semântica pela inquietação que me provoca a queda na boçalidade), que, por vezes, dou por mim a odiar o que não se pode, ou melhor, o que não se consegue execrar pela destreza literária, a genialidade rara de uma prosa assombrosa. E, acrescente-se a tudo atrás relatado, com um nome inconcebível, um trava-língua principalmente para a mais pachorrenta ou adormecida no piedoso mutismo: Roberto Bolhanho… perdão, Bolhano… hum, hã… Bolano, Bolaño? ¡Eso es! Não se pode desdenhar do que, efectivamente, se gostou com um frémito de puro deleite e que, além de mais, até se traduziu de forma selvagem neste espaço irascível: “A Praia”, ou “A Cozinha Literária de Bolaño”.
Vem aí o Terceiro Reich, mas para ser sincero, o momento pede que me embrenhe no Submundo do também aliterante Don DeLillo, com ou sem bunker bafiento e uma Walther PPK para apressar a coisa, prometido há meses pela Sextante, mas até agora sem quaisquer resultados práticos.
Será que, após a compra da casa liderada por João Rodrigues pela Porto Editora, o dito cujo ficou esquecido no prelo, pronto a ser devorado por ratazanas e crocodilos (com a devida vénia a Pynchon) letrados e recenseadores que pululam nas correntes subterrâneas do meio editorial português?
[feedback] Pede-se a comparência à secção de “ménage” de Benny Profane [som de fundo: uma canção dos Keane à escolha do leitor].
Nota: na imagem, ao centro, figura um Araripesuchus rattoides que habitou a terra no período Cretáceo (sucedeu o Jurássico) da era geológica do Mesozóico, mais conhecido por “ratcroc”.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

4 meses, 23 jogos e o 25 de Abril


Há uns tempos prometi a mim mesmo que não voltaria a escrever aqui sobre futebol, porquanto, na maioria das vezes, a paixão na análise dos factos tolda alguma racionalidade asseguradora de um mínimo de imparcialidade. Rompi a promessa, porém não me penitencio. Mesmo que ninguém leia os textos que para aqui – e cada vez mais espaçadamente – vou publicando, senti que deveria exteriorizar a minha raiva, que se contida provocaria maiores danos, perante a actual VERGONHA camuflada de regulamentos espúrios.
O contador que permaneceu neste blogue até sexta-feira passada – o dia da decisão – assinalava 61 dias de suspensão preventiva de dois jogadores do meu clube, que impediu a participação dos mesmos em 12 jogos para competições oficiais de futebol.
Hoje, sabe-se que para o mais destacado da dupla de castigados – Hulk – serão 23 os jogos em que aquele predestinado – quiçá por artes mágicas ou por um sopro olímpico à nascença – foi arredado dos relvados por um “Pavão” de Canelas, Gaia – conhecido pela sua cor clubística rubra, imprimida pelo pai desde os tempos de meninice –, estribado cegamente em regulamentos que, pasme-se, considerou injustos. Todavia, Costa como principal zelador do seu cumprimento nunca tomou a iniciativa formal para propor a sua alteração. Ficam-lhe mal as lágrimas de crocodilo, o excesso de linguagem que procurou exalar a imagem de um homem agrilhoado à lei disciplinar, esquecendo-se que, com esse comportamento, cometeu o erro de praticar um acto conscientemente imoral, derrogando a génese e o sustentáculo de qualquer forma de Direito, o sentimento de justiça, transversal ao comportamento humano. Em suma, permitiu-se a ratificar o “mal” deixando-se vencer por uma lei sem moral.
Curiosamente, quis o destino que a 25 de Abril de 2010, Givanildo Vieira de Souza regresse do seu degredo, 36 anos depois do dia em que a liberdade voltou às ruas deste país de misérias.
Com estas palavras, termino o assunto, e em definitivo, não me coibindo de deixar mais outras que, pela insuspeita clubite, deveriam ser motivo de reflexão:
«Deixo a minha opinião sobre os castigos de Hulk e Sapunaru já no início do texto: são desproporcionados.
Os actos dos dois futebolistas não mereciam semelhante pena, que considero de uma violência sem sentido. Se pensarmos que os jogadores têm, em média, dez anos de carreira ao melhor nível, este castigo significa, por exemplo, que o lateral romeno acabou de perder 5 por cento da sua vida desportiva. É brutal.
Arrumada a minha opinião sobre a dimensão do castigo, sobram três perguntas: o processo foi bem conduzido, o desfecho podia ter sido diferente, os regulamentos disciplinares do futebol português são bons?
1. Depois de ouvidas as explicações de Ricardo Costa fiquei convencido de que o processo foi bem conduzido. Respeitou os prazos, fez o que tinha a fazer. No entanto, o final foi desastroso. A conferência de imprensa na sede da Liga é desajustada e constituiu um triste e lamentável espectáculo. Se pretendia ser claro, Ricardo Costa deveria ter-se limitado a colocar online um acórdão contido, correcto e claro. O dia em que jogadores são condenados a castigos tão pesados não pode ser promovido a espectáculo televisivo. Muito menos por pessoas com responsabilidades disciplinares e na sede do organismo que representa os clubes.
2. Acho que a Comissão Disciplinar valorizou muito pouco duas questões fundamentais: o comportamento dos stewards indicados pelo Benfica e o facto de os jogadores estarem sujeitos a uma pressão que resultava de terem terminado um jogo de futebol intenso minutos antes. Ou seja, os stewards não deviam simplesmente estar naquele sítio, quanto mais optar por um comportamento que a CD considerou «provocatório». Faltou à Comissão Disciplinar algo essencial a quem aplica regulamentos: bom senso. Os clubes mal intencionados ficaram a saber que sai muito barato provocar os jogadores adversários nos túneis. Com 1500 euros pode conseguir-se provocar um sério dano na concorrência.
3. A resposta à terceira pergunta é fácil. É evidente que os regulamentos são maus. Mas antes de serem maus, são demasiados. Os regulamentos devem garantir que todos podem defender-se, mas, em simultâneo, permitir a aplicação da justiça em tempo útil. Porque, como se viu, o tempo de quem julga é bem diferente do tempo de quem joga. Aqui, mais uma vez, a Comissão Disciplinar da Liga esteve mal. Os anos que leva no futebol são mais do que suficientes para lhe exigir que tivesse conseguido uma acção activa na alteração dos regulamentos. É fraca desculpa alegar, nos momentos mais delicados, que a culpa é das leis, que são más. Sobretudo quando no resto do tempo se assobia para o lado.
O facto de discordar do desfecho deste caso não me leva a dar o passo seguinte: colocar em causa a honra e o equilíbrio de quem integra a Comissão Disciplinar. Reconheço na acção de Ricardo Costa rigor, trabalho e esforço honesto na alteração das práticas anteriores. E todos sabemos como funcionava a CD antes da direcção de Hermínio Loureiro.
Dito isto, era tempo de os clubes, sobretudo os maiores, contribuírem para a elevação do futebol em Portugal. E isso faz-se nos momentos complicados, como este. O F.C. Porto tem todo o direito de recorrer, mas perde respeito quando o faz utilizando linguagem imprópria.
P.S.: Só mais um ponto: face à dimensão do castigo aplicado a um jogador tão importante como Hulk, é evidente que a Comissão Disciplinar poderá sempre ser acusada de ter contribuído para decidir o campeão em 2009/10.»
Luís Sobral, in MaisFutebol, “Castigos a Hulk e Sapunaru: obviamente são excessivos”, 20 de Fevereiro de 2010. [destaques meus]

6 BAFTA's 6

Bigelow não precisa da indulgência ou da magnanimidade do seu arrogante e auto-iludido ex-marido, deve ter-se despedido de Londres com um sardónico «hasta la vista, baby» – próximo embate em Hollywood de hoje a 15 dias. Estado de Guerra (The Hurt Locker) venceu em 6 das 8 categorias para que estava nomeado (perdeu o BAFTA para "Melhor Actor" para o excepcional Um Homem Singular (A single Man) do estreante e fulgurante Tom Ford, protagonizado por Colin Firth, e o de melhores efeitos especiais para Avatar):
Melhores Filme, Realização (Kathryn Bigelow), Argumento Original (Mark Boal), Fotografia, Montagem e Som.

Outro Destaque:
Audiard vence finalmente o unanimista Haneke: Um Profeta (Un prophète) arrecada o BAFTA para "Melhor Filme em Língua Não-Inglesa".

Nota: dada a falta paciência, mais informações em inglês aqui, e em português aqui. 

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Óscares 2010 – nomeações


Resumidamente, que por enquanto o tempo escasseia, eis a lista dos nomeados para a 82.ª edição de entrega dos Óscares da Academia de Hollywood, que decorrerá no próximo dia 7 de Março no Kodak Theatre, em Los Angeles (por ordem decrescente de nomeações):
9 nomeações
Avatar, de James Cameron
Estado de Guerra, de Kathryn Bigelow (The Hurt Locker)
8 nomeações
Sacanas Sem Lei, de Quentin Tarantino (Inglourious Basterds)
6 nomeações
Nas Nuvens, de Jason Reitman (Up in the Air)
Precious, de Lee Daniels (Precious: Based on the Novel Push by Sapphire)
5 nomeações
Up – Altamente!, de Pete Docter e Bob Peterson (Up)
4 nomeações
Distrito 9, de Neill Blomkamp (District 9)
Nove, de Rob Marshall (Nine)
Star Trek, de J.J. Abrams
3 nomeações
Crazy Heart, de Scott Cooper
A Jovem Vitória, de Jean-Marc Vallée (The Young Victoria)
Uma Outra Educação, Lone Scherfig (An Education)
A Princesa e o Sapo, de Ron Clements e John Musker (The Princess and the Frog)
2 nomeações
The Blind Side, de John Lee Hancock
O Fantástico Senhor Raposo, de Wes Anderson (Fantastic Mr. Fox)
Um Homem Sério, de Joel e Ethan Coen (A Serious Man)
Invictus, de Clint Eastwood
O Laço Branco, de Michael Haneke (Das Weisse Band)
The Last Station, de Michael Hoffman
The Messenger, de Oren Moverman
Parnassus – O Homem que Queria Enganar o Diabo, de Terry Gilliam (The Imaginarium of Doctor Parnassus)
Sherlock Holmes, de Guy Ritchie
1 nomeação
Coco avant Chanel, de Anne Fontaine
Coraline e a Porta Secreta, de Henry Selick (Coraline)
Estrela Cintilante, de Jane Campion (Bright Star)
Harry Potter e o Príncipe Misterioso, de David Yates (Harry Potter and the Half-Blood Prince)
Il Divo – A Vida Espectacular de Giulio Andreotti, de Paolo Sorrentino (Il Divo)
In the Loop, de Armando Iannucci
Julie e Julia, de Nora Ephron (Julie & Julia)
Paris 36, de Christophe Barratier (Faubourg 36)
The Secret of Kells, de Tomm Moore e Nora Twomey
A Single Man, de Tom Ford
Transformers: Retaliação, de Michael Bay (Transformers: Revenge of the Fallen)
Visto do Céu, de Peter Jackson (The Lovely Bones)


Melhor Filme Estrangeiro
  • Alemanha, O Laço Branco, de Michael Haneke (Das weisse Band // The White Ribbon);
  • Argentina, El Secreto de Sus Ojos, de Juan José Campanella (The Secret in Their Eyes);
  • França, Um Profeta, de Jacques Audiard (Un Prophète // A Prophet);
  • Israel, Ajami, de Scandar Copti e Yaron Shani;
  • Peru, La teta asustada, de Claudia Llosa (The Milk of Sorrow).
Desenvolvimentos para mais tarde.


Nota: para mais informações, consultar o sítio oficial dos Óscares ou a notícia em português.