sábado, 29 de abril de 2006

Intermezzo

FÉRIAS
Uns dias de pausa para ¡recargar las pilas!
Depois de (des)carregada, voltarei em força na próxima 3.ª feira.

Até lá!

Um país efabulado

Alexandre Estrela
Exposição de Alexandre Estrela, Palácio Vila Flor, Guimarães, de 28 de Abril a 2 de Julho.

Nota: recomendo o vídeo, não por qualquer analogia futebolística, mas por uma necessidade fisiológica premente coadjuvada por um subwoofer, que se constitui como um meio imprescindível para o desempenho de funções desobstrutivas sem as torturantes mezinhas caseiras.

sexta-feira, 28 de abril de 2006

Lágrimas escarninhas #13

Esta edição para além conter a habitual boa dose de riso, encerra um louvor.

O louvor
A tradução de Candide de Voltaire por Rui Tavares, que teve direito a apresentação na Fnac do Colombo no passado domingo, a propósito do dia internacional do livro.

As lágrimas
Rui Tavares deixou ficar
o aviso:

«Na impossibilidade de Voltaire estar presente (e a Câmara Municipal de Lisboa também escusa de lhe escrever a felicitar pelo livro) (…)»

De facto, estes franceses presunçosos e chauvinistas irritam-me! Como a tradução foi efectuada para a língua de Camões, aux Portugal – como eles dizem –, o franciú – chico-maria – nem sequer saiu do seu petit château.

Estes franceses são detestáveis!

Notas:
  1. Enganam-se aqueles que tencionam ir a correr às livrarias comprar Cândido pensando que se trata da biografia do jogador de futebol, ex-Porto, Cândido Costa. Para além disso, não foi editado pela Prime Books, mas pela Tinta-da-China.
  2. Para o Rui, apesar do 13 que lhe calhou em sorte, dou-lhe os meus parabéns e desejo-lhe, como é óbvio, boas vendas!

Kazuo Ishiguro

Kazuo IshiguroA propósito deste texto d’O Sniper:
Escritor inglês, de origem japonesa – nasceu em Nagasáqui há 41 anos.
Sobre ele já muito escrevi, sobre os seus romances permitam-me destacar o seu último «Nunca Me Deixes», publicado em Portugal pela Gradiva em Julho de 2005 (Never Let me Go, 2005), li-o, ou melhor, devorei-o em 2 dias mal havia acabado de sair para os escaparates.
Com este romance, Ishiguro foi finalista do
The Man Booker Prize de 2005 – prémio arrecadado pelo último romance de John Banville, The Sea (ainda sem tradução em português) –, no entanto, Ishiguro já o havia recebido em 1989 pelo o seu romance magistral «Despojos do Dias» (The Remains of the Day, 1989).
O que há de mais transcendente neste autor é a sua escrita simples, tocante e inebriante sobre temas complexos e polémicos.
Da nova vaga, no panorama internacional, só o norte-americano Michael Cunningham, no meu modesto entender, lhe consegue equiparar-se, se bem que, mesmo assim, prefira o autor inglês.
Nada mais direi sobre o autor, porque tudo aquilo que se seguiria poderia soar a uma sucessão de hipérboles sobre as sua qualidades literárias.
No entanto, deixo aqui uma informação que retirada
daqui.
Em Outubro de 2005, a revista norte-americana
Time anunciou a lista dos melhores romances em língua inglesa, publicados entre o ano da fundação da revista, 1923, até aos dias de hoje – All-Time 100 Novels. Nessa lista figura o romance de Ishiguro «Nunca Me Deixes», juntamente com outros vultos da literatura de língua inglesa, como por exemplo:
Anthony Burgess, C. S. Lewis, E. L. Doctorow, E. M. Forster, Ernest Hemingway, Evelyn Waugh, F. Scott Fitzgerald, George Orwell, Graham Greene, Harper Lee, Henry Miller, Ian McEwan, Iris Murdoch, J. D. Salinger, J. R. R. Tolkien, Jack Kerouac, John Le Carré, John Steinbeck, John Updike, Kurt Vonnegut, Margaret Atwood, Paul Bowles, Philip K. Dick, Philip Roth, Raymond Chandler, Salman Rushdie, Saul Bellow, Thomas Pynchon, Toni Morrison, V. S. Naipaul, Virginia Woolf, Vladimir Nabokov, William Burroughs, William Faulkner, William Golding ou Zadie Smith.
Ver lista completa dos 100 romances
aqui.

Nota: Fáceis de se encontrar em qualquer livraria estão dois dos seus romances traduzidos em português, para além do já mencionado «Nunca Me Deixes»:
  • «As Colinas de Nagasáqui», Relógio D'Água (s/ data) - A Pale View of Hills, 1982 (o seu 1.º romance);
  • «Quando Éramos Órfãos», Gradiva (Novembro de 2000) - When We Were Orphans, 2000.

A realidade é uma alegoria da própria vida

¡Dígame!
– Estou…
– Ah, queira desculpar-me! É o hábito… Mas… é a cara leitora do
Luís, de novo! Ouvi a sua meia mensagem, ontem.
– Oh, desculpe-me! Mas o telemóvel…
– Não tem importância! Mas afinal o que me quer? Pensei que depois do último telefonema as coisas houvessem ficado bem definidas!
– Pois, eu sei! Digo já, com a franqueza que me caracteriza, que sirvo apenas de pombo-correio,
o Luís pediu-me… ou melhor sugeriu-me que falasse consigo acerca de um assunto que o tem apoquentado.
– Hum…
– E pediu-me que eu, no meu infinito particular, lhe transmitisse uma mensagem… sobre a sua tese… esse trabalho que o apoquenta no momento!
– Sim...
– Vá lá, não seja assim, esqueça as nossas tricas fúteis ou até eventuais. Quer abrir-se comigo?
– Bem, não sou pessoa que se exponha assim com facilidade…
– O Luís… Oh, o Luís! Pediu-me que lhe transmita que uma tese não se faz de metáforas, lúbricas ou não, mas treina-se diariamente e criam-se automatismos…
– Futebol? Transmitiu-lhe a minha mensagem?
– Sim, claro! Mas isso agora não importa! Fala-me de si… da sua tese, queria eu dizer. Não consegue apenas escrever ou não tem mesmo tese? O que se passa?
– Oh, isso é uma história muito comprida…
– Mas fale-me da parte que o apoquenta!
– O que me apoquenta? Quer mesmo saber?
– Sim telefonei-lhe para isso mesmo… e para lhe transmitir
a tal mensagem. Porém, se de igual modo não fosse do meu interesse, talvez até nem lhe ligasse.
– O.K., vejo que se preocupa! E, acima de tudo, agradeço-lhe essa preocupação.
– Não tem de quê!
Uma grande amiga, daquelas que se acham raras vezes na vida, definiu bem a situação! É uma vida que segue em paralelo, como se estivéssemos erradamente na margem direita de um rio a caminho da foz e vislumbrássemos aquilo que, eventualmente, poderia ocorrer na margem esquerda. A corrente é forte, o rio é cavado, escuro e tenebroso, e até aqui não surgiu uma única ponte, excepto a primeira que atravessei… ou melhor me convidaram a atravessar e eu, às apalpadelas, agarrei-me à balaustrada e atravessei. Precipitei-me para a outra margem, senti um empurrão, tropecei, uma densa neblina turvou-me a vista e segui em frente.
– E a ponte estava lá?
– Sim, creio que sim! Mas quando nos enchemos de orgulho, de uma inabalável certeza que o que pensamos naquele momento preciso é o que é correcto, justo e virtuoso, nem tentamos cortar a neblina, a cortina que nos separa o regresso ao trilho que gizáramos, porque a nossa convicção é a lanterna que nos alumia…
– Mas se lhe indicou o caminho, ou pelo menos lhe deu a luz para caminhar, qual é o motivo para que o percurso construído não seja o correcto?
– Porque estamos sós!
– Desculpe-me, mas essa luz não é o farol que guiará os outros até si? Aqueles que realmente ama e que o amam?
– Não, cara leitora! Está enganada! Redondamente, enganada! Essa luz é imaginária, ou se preferir o seu comprimento de onda é superior àquela que se consegue ver.
– Como os infravermelhos!?
– Exactamente! Todavia, nós desconhecemos que ela não é visível, porque nós a vemos, o caminho é visível, logo essa tendência para autocentrar aquilo que nos rodeia leva a essa ilusão.
– Megalomania?
– Se lhe quer chamar assim... prefiro um termo mais suave: auto-ilusão. Convencemo-nos de que somos David enfrentando Golias e que, mais cedo ou mais tarde, lá acabará por aparecer a inevitável funda, com a qual cegaremos o monstro.
– O monstro!? O que é para si o monstro? Os nossos medos e manias? As nossa atitudes que escapam ao controlo do super
– Não, cara leitora! Esse monstro que referi representa o mal que o adversário, materialmente mais poderoso, nos pode infligir. Tal como Sartre dizia, o inferno são os outros, se bem que muitas vezes ele vive dentro de nós. Logo não é uma asserção definitiva, dogmática… percebe?
– Em parte…
– Vou-lhe dar um exemplo recorrendo, sem presunção de alguma espécie, ao meu caso concreto.

– Sou toda ouvidos!
– Contudo, não lhe irei contar os pormenores e os factos em si. Para além de poder ser um exercício penoso, tanto para mim como para si, são factos que só a mim e aos meus mais próximos dizem respeito. Entende-me?
– Claro, prossiga…
– Há poucos anos propus-me realizar um desafio, sem nada de especialmente transcendente, significava fazer o vital upgrade na minha carreira e ainda para mais recorrendo à investigação, a minha dilecta actividade. E assim foi. Sem apoios de espécie alguma – falo dos financeiros – lá me aventurei para o coração do país vizinho e lá permaneci um ano fenomenal. Repleto de descobertas e de desafios. Nada de melhor para um jovem quase a entrar na quarta década da sua vida – os deliciosos 30.
– E… correu bem?
– Não poderia ter sido melhor, classificações, encómios, congressos, publicações, laços de amizade que ainda perduram durante este 4 ou 5 anos, tanto com colegas como com os meus colegas/professores.
– Óptimo, mas…
– Por favor, deixe-me terminar. O segundo ano, foi dedicado exclusivamente à investigação para a obtenção do D.E.A…
– D.E.A.?
– Diploma de Estudos Avançados!
– Ah! E conseguiu?
– Consegui, com palmas e louvores uma vez mais, e vivas a Portugal pela prende ofertada. Desculpe-me, estou a ser imodesto…
– Não, se é a realidade…
– Pois, mas não sou muito dado ao auto-elogio… percebe?
– OK, continue!
– Todavia, apesar do excelente ano em termos académicos, o meu mundo começou a desmoronar…
– Hum…
– No início desse segundo ano, fiquei a saber que 2 míseros centímetros de tecido malformado podem redundar em morte. E assim foi! Fizemos tudo o que era possível, hospitais, médicos, viagens, mas… durou 10 meses.
Só chegou aos 26!
– Isso é horrível… não tenho palavras…
– Não há dia que passe que não me lembre desse período. Contudo, na memória conservo os momentos bons que me deixaram uma eterna saudade – que dizem que se torna boa com o tempo e nos fazem esquecer os momentos de atribulação, mas isso é uma pérfida mentira!

(continua num dia destes, o mais repugnante do ser humano ainda está para vir)

Voice mail

Enfim, cheguei a casa! Cansado, de olhos raiados de sangue por horas de exposição ao branco e negro de páginas do Word, bebo um copo de água, ligo a televisão e oiço as mensagens:

«
Tem… uma… mensagem nova… mensagem recebida às… 16… horas… e… 40… e… 3… minutos
(beep)
Olá… hum… André!? Não sei bem como começar… Sou eu a
leitora
… a do Luís! Bem, gostaria de falar consigo… se não vir inconveniente, claro! Há um assunto que me preocupa (o meu telemóvel está a ficar sem bateria)… Bom, não é isso que realmente me preocupa, é evidente! Tenho vindo a sentir que anda assim… hum… para o deprimido, sabe? Olhe, antes de tudo queria perguntar-lhe como vai a sua te
Fim da mensagem… para ligar de volta prima a tecla estrela…
»

Amanhã estarei por cá…

quinta-feira, 27 de abril de 2006

Passatempo Porque: descubra as diferenças!*

Eis a capa do n.º 638 da revista balsomónica Visão, publicada a 25 de Maio de 2005:


Agora consulte
este sítio que inclui todo o conteúdo da edição especial que acompanhou a Visão n.º 638.

Eis a capa do n.º 686 da revista balsomónica
Visão, publicada a 27 de Abril de 2006:



No
interior surge o texto «Figura: Co Adriaanse, o treinador sem medo» [sem ligação para o artigo, pressupostamente em edição especial, deverá conter cerca de 500 páginas*]

Nota: o próximo quebra-cabeças será publicado em breve, com o patrocínio do Grupo Cofina.

(admirados com as manifestações?)

*[actualizado em 28/04/2006 às 18:36] Afinal, trata-se apenas de 1 página e não de 500, como por erro referi (confirmado não pela compra - jamais - mas por uma discreta espreitadela no escaparate de uma tabacaria).

Everyman

«Around the grave in the rundown cemetery were a few of his former advertising colleagues from New York, who recalled his energy and originality and told his daughter, Nancy, what a pleasure it had been to work with him.»

Assim começa o novo romance do escritor norte-americano Philip Roth, Everyman (2006).
O livro será lançado nos Estados Unidos no próximo dia 6 de Maio.
Depois da publicação da sua obra-prima «A conspiração contra a América», Roth conta a história de um velho amargo, angustiado, decrépito, incapaz de enfrentar as inexoráveis marcas do envelhecimento, num romance relativamente curto, circunscreve-se a menos de 200 páginas.
O romance inicia-se com a morte do protagonista, de quem o nome nunca é revelado no decurso da narrativa, desenvolvendo-se com as dolorosas rememorações de uma vida, dominada por sentimentos contraditórios, onde o medo da morte se vai materializando num crescendo que roça a simples paranóia, o desconforto e a desconfiança perante os outros que lhe são próximos. Trata-se, pois, da narração da eterna angústia do envelhecimento, processo que o próprio septuagenário Roth (73 anos) enfrenta, sem hipótese de remissão.
Para saber mais, leia-se a curta recensão de Michiko Kakutani publicada hoje (26 de Abril) no The New York Times.
Em breve este livro incorporará a secção deste blogue dedicado ao Ritmo Editorial Português.

Nota (aparentemente desconexa com o texto acima): David Fincher – o meu realizador de eleição no actual espectro cinematográfico – irá dirigir o filme “Benjamin Button”, baseado no conto homónimo d’O Grande F. Scott Fitzgerald, e que contará, ao que tudo indica, com as participações de Brad Pitt e de Cate Blanchett. O argumento, que estará a cargo de Eric Roth – que escreveu para o grande ecrã argumentos como “O Informador” (original), “Munique”, “O Encantador de Cavalos” ou “Forrest Gump” –, narra a fantástica história de um homem que aos 50 anos se depara com um rocambolesco ponto de inflexão em plena fase de maturidade da sua vida, isto é, quando se preparava para enfrentar a velhice, é acometido de um processo regressivo de rejuvenescimento. O filme estreará apenas em 2007. Logo, resta-me a inevitável paciência.

quarta-feira, 26 de abril de 2006

Há dias assim!

Salvador Dali - La desintegración de la persistencia de la memoria Salvador Dali, La desintegración de la persistencia de la memoria, 1952/54


Prostrado, sentado em frente ao teclado, nem tese, nem blogue. Não me saem as palavras de Cervantes, tão-pouco as de Camões.
Lá fora o mundo pula e avança, num bulício que enjoa só de olhar. Exauriram-se-me as forças e parece que o mundo vai acabar. Leio Tabucchi, mas canso-me a cada duas páginas e assalta-me uma angústia que me divide em dois: não deverias estar a escrever a tese? Olhas os prazos! Não escreveste uma linha sequer!?
Como se fosse isso, páginas em branco à espera de serem marteladas por cúmulos de doutrina que repousam em hibernação na minha cabeça.
Como se não precisasse de paz, de inspiração, de quietação!
Como se num gesto de pura magia brotassem parágrafos em barda, dispostos segundo os cânones do método científico, com notas de pé de página que cita aquele que cita o outro, que por sua vez ejaculou a puta de uma teoria que sabemos que não está certa mas é a que existe e é a que se convencionou utilizar. Somos reféns dos econometristas, dos matemáticos, daqueles cérebros de "2+2" que vomitam fórmulas para nos facilitar a vida! Que merda de ironia!
Faz a tese! Vem-te, porra!
Se houvesse um galardão para o labor mais estúpido do mundo, esse iria, com certeza, para o processo de fabricação de uma tese, ou melhor, para invenção de um modelo que satisfaça uma turba douta e sapiente, que do tema nada percebe, mas que se masturba com duplos integrais, somatórios, produtórios, derivadas, limites, regressões, citações, chavões… puta que os pariu!
Ouço Sigur Rós, Hoppípolla, marejam-se-me os olhos, adensa-se o nó na garganta.

Agora, por fim, ouço Brel

«Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit déjà
Oublier le temps
Des
malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
A coups de pourquoi
Le cœur du bonheur
Ne me
quitte pas

(...)»

Já a seguir retomo Tabucchi e as memórias do gangrenado Tristano. Pode ser que volte… o estro!

terça-feira, 25 de abril de 2006

O regresso do repelente

Ao propósito deste senhor, subdirector do Diário de Notícias, que se dá pelo nome de João Morgado Fernandes, já aqui havia escrito isto relativamente a um assunto completamente diferente do que me traz aqui hoje.
Através do blogue de
Jorge Ferreira – que o enlaçou – o homem dos linguados escreve esta prosa de uma sobranceria e de uma tacanhez dilacerantes:

«As comemorações de vitória do FCPorto são das coisas mais rascas e abjectas que passam na televisão. A reboque de uma mera vitória desportiva, levamos com um chorrilho de palavrões e gestos de ódio, verbal e físico, como raramente se vê e ouve. Não há pinga de alegria naquela gente, só álcool. Daquelas bocas só saem duas coisas: palavras de ódio para com os adversários, num vernáculo repetitivo, sem graça; incitações ao ódio regionalista, num timbre desmiolado, animalesco. Mas, enfim, como se trata de futebol, ninguém repara, ninguém se importa, ninguém leva a mal.»

A propósito desse texto, no mínimo e para não fazer estalar o verniz, deplorável, deixei-lhe na caixinha de comentários o seguinte linguado… perdão, texto, com algumas alterações de forma:

«Ó senhor subdirector,
Com o cargo que ocupa não deveria documentar-se e verificar que todas as comemorações de todos os clubes, sem excepção, são de um trogloditismo primário?
Ainda não decorreu 1 ano e já se esqueceu dos impropérios avermelhados?
Não se lembra da triste final da Taça entre o Sporting e o Benfica com a morte de um adepto, assassinado pelo lançamento de um very-light?
Esqueceu-se das pedras arremessadas e cânticos de ódio, de uma obscenidade gritante, aquando da entrega da Taça [de Portugal] aos jogadores do Porto – conquistada ao Sporting – pela então Ministra da Educação Manuela Ferreira Leite?
Esqueceu-se do apedrejamento do Dr. Domingos Gomes quando este, em Alvalade, socorria jovens sportinguistas que caíram de um varandim para insultar e apedrejar os jogadores do Porto quando estes chegavam ao estádio de autocarro?
E poderia continuar!
Como jornalista que é, considero incrível essas características de memória selectiva e de completa parcialidade na análise dos factos, agravadas pela condição de ser subdirector de um jornal nacional, o Diário de Notícias.»

Não é necessário acrescentar muito mais.
Ora, se a profissão do dador de linguados fosse a de calceteiro, canalizador ou até palhaço, até poderia compreender a sua chocante ignorância – chamemos-lhe eufemisticamente assim.
Porém, este senhor dirige um jornal nacional com pergaminhos, o
Diário de Notícias, dirigindo, por certo, jovens jornalistas e exercendo, ademais, a profissão de escriba do periódico.
No meu entender, o que define um bom jornalista são as qualidades da imparcialidade, da honestidade e da independência; o bom jornalista é aquele que antes de publicar uma notícia, confirma as fontes, efectua um aturado enquadramento do tema em questão, seguindo um código deontológico que rege a profissão. Em abono da verdade, o autor do Dando Linguados não o mantém em pé na qualidade de jornalista, mas na qualidade de blogger. Logo, a manápula da deontologia profissional decerto não o deverá atingir. Todavia, o autor não pode despir a sua pele e umas vezes ser a “Emília patroa” cheio de mesuras e de cuidados jornalísticos, e noutras a “Emília costureira”, brejeira, boateira, alcoviteira e até ronceira.
No meu caso, há muito que já não dava esmola para o peditório do jornal nacional, de origens lisboetas, agora detido por capital residente no norte do país. Depois desta execrável cabotinagem, nem de borla pela Internet.

Nota: Dou apenas dois exemplos dos salutares cânticos e comemorações de outras claques: esta e esta. Através de uma curtíssima pesquisa e sem esforço cheguei a estes dois excelentes exemplos do caciquismo e da boçalidade que é transversal no futebol português. Investigue, certifique-se e depois publique.

A via-sacra de um boy atemorizado: 3.ª Estação

Caiu em si. À sua volta um duro silêncio de desdém deita-o por terra.
Cansado, exaurido até ao fim das suas forças, enrodilha-se em postura fetal e chama num bramido dilacerante: «Mãe! Dá-me algo para comer!»
A carga aérea esfumou-se, como o emproado puto andrógino em Alcácer-Quibir.
Queria comer…
«Dai-me algo!», pedia a um deus no qual não acreditava.
«Ah, esta vil quietude ao qual fui votado… Foi obra tua, seu açambarcador de almas intoxicadas em hóstia!»
Sentiu um estremecimento, 5,6 na escala de Richter assinalava o seu sismógrafo de pulso. Uma luz branca, de uma intensidade intolerável, fecha-lhe as pálpebras; sente a pele a queimar como um courato na frigideira. Sente fome…
Ouve uma voz forte em tom monocórdico que lhe diz:
«Boy, penso eu de que, chamaste-me e aqui te trago uma pequena prenda que te calará essa miséria fisiológica».
Boy, acalmou-se, ajoelhou-se em penitência e vislumbrou no fundo de um pedestal o santo anel e uma lúbrica taça…

Paul Cézanne - Fruta

Paul Cézanne, Fruta, 1879/82

FIM!
(as restantes 11 estações careceram de ser percorridas)

A via-sacra de um boy atemorizado: 2.ª Estação

Atado e bem atado, generalíssimo! O boy, que já não se movia pelo terror infligido, agarra na sua constituição e recorda pueris pulhices da exaltada infância. «Ai as criadas…» e geme num frémito matizado de lascívia e pânico!

Elie Levy, Visões da Infância

Elie Levy, Visões da Infância, 1998

segunda-feira, 24 de abril de 2006

A via-sacra de um boy atemorizado: 1.ª Estação

A fatwa é suspeitamente lançada, à laia de um Gardel anglicizado.
O boy aterrorizado, estaca e lança o grito da ignominiosa perseguição.



Edvard Munch, O Grito, 1893

O meu encontro com a leitora

– Estou, Luís?
– Lamento, aqui não há nenhum Luís… Hum, reconheço-lhe a voz... essa rouquidão entaramelada…
– Com quem estou a falar?
– Com o André, leitora! É isso, não é? Há
manchas no seu passado que a induziram ao engano na marcação do número!
– Ah! O insurgente André!
– Engana-se, maculada leitora! Errou por muito... sou menos lido! É o André do
Porque!
– …
– Não sabe quem sou?
Boémia!?
– Isso! Viu o número naquele rótulo húmido de cerveja tépida… nas bifanas do Victor!
– Desculpe-me! Mas vou desligar! Não me apetece…
– Calma! Sempre pode dizer alguma coisa, eu não…
– Cale-se, seu porco! Ainda me lembro da sua ousadia!
– Mas… Mas, só me limitei a retirar-lhe o molho da sua blusa Moschino! A existir culpa, foi da bifana que se engastou nesse vale…
– Eu não estava capaz de me controlar… o Porto… a cerveja quente a entranhar-se-me no sangue…
– Sabe, hoje em dia, a culpa não é só da testosterona! Vocês têm vontade e normalmente satisfazem-na. Somos meros joguetes nas vossas mãos! O Cabo do Mundo, lembra-se? Nova Iorque fora de horas! Usou-me, ou não?
– Ah, essa é boa! Seu... a desresponsabilização masculina perante a emancipação da mulher! Vocês só pensam… bem, hum, com aquilo…
– Porquê? Não gosta? Não me diga que agora é uma feminista misândrica!
– Vou desligar, não estou para…
– Vá lá, já desliga. Agora, satisfaça-me só uma curiosidade. O
Luís – ao contrário de si, na roulotte nos Aliados – nem sequer se referiu à vitória de sábado, o que sabe disso?
– Olhe, ao Luís pouco lhe importa o futebol e essa tribo repulsiva a que vocês, homens, pertencem!
– Vindo de si, quem diria!?
– Vá pró car…
– Não se excite! Já bastou sábado!
– Está a chantagear-me?
– Não, não estou! Só queria que me fizesse um favor…
– Pois… vindo de si...!
– Eu sei que ao
Luís não lhe interessa o futebol! Mas mesmo assim dê-lhe os parabéns por mim! Não a incomodo mais prometo-lhe!
– Hum… OK, dir-lhe-ei!
– Obrig… Olha desligou!

domingo, 23 de abril de 2006

Sobressalto

Hoje, ao ler esta pequena elucubração imagética do Afonso, sobressaltei-me!
No entanto vi que era arte, porventura retirada daqui – da nobre Torcida.
Isso, do Povo e das suas tribos dispersas numa diáspora garrida de RGB's, escatologicamente falando, evacuam todos, numa culminância do peristaltismo delirante, para o mesmo monturo.
A parte pelo todo, o todo pela parte!

Actualizações em liberdade

Aqui está uma boa ocasião para actualizar a minha lista de blogues. Depois da alegria de ontem – dispensa de mais comentários – e na véspera da celebração da conquista da liberdade – esse conceito ambíguo e de um relativismo gritante –, nada melhor que fazer alguma justiça perante aqueles que neste meu espaço ainda não dispunham de um quase obrigatório enlace.
Assim, na lista de blogues da coluna da direita foram adicionados os que se seguem:
Anjos e Demónios (Patrick Blese); Câmara Corporativa (Miguel Abrantes); Cocanha (Zazie); Esquina do Porto (blogue colectivo, Fernando Rogério et al.); Galo Verde (Carlos Sousa); Geração Rasca (blogue colectivo, André Carvalho et al.); Insustentavel Leveza (Sabine); O Jumento; Letras com Garfos (Orlando Braga); Papagaio Morto (do ex-Acidental Leonardo Ralha, e um dos meus lagartos preferidos) e Postais de BXL (Sinapse).
A todos saúdo e desejo a continuação da produção de bons textos nesta blogosfera que anda longe de estar morta e enterrada.

CAMPEÕES!

21 Campeonatos da 1.ª divisão nacional

12 Taças de Portugal

13 Super-taças Cândido de Oliveira

4 Campeonatos de Portugal

2 Taças dos Campeões Europeus

2 Taças Intercontinental

1 Taça UEFA


1 Super-taça europeia

sábado, 22 de abril de 2006

Lágrimas escarninhas #12

Este texto de Vasco M. Barreto no seu blogue A Memória Inventada é, francamente, digno de destaque, não só pela dolorosa verdade que anuncia, mas também pela potencial cientificidade – que facilmente poderá extravasar para o domínio da metafísica – do conceito da coisa ubíqua.
Trata-se, sobretudo, do dealbar de uma discussão inovadora sobre a omniausência, que VMB definiu como «dom da ubiquidade invertido».
Matematicamente, se temos DUI para designar o dom da ubiquidade invertido e U para ubiquidade, vem DUI = U-1 = 1/U.
Assim, resta definir e delimitar no espaço a variável U para que se consiga fazer exprimir o DUI, já que é o seu inverso. Porém, entrego de bandeja essa discussão aos matemáticos.
Deixo apenas a última frase de VMB que me fez recordar – com alguma nostalgia, confesso – os exasperantes e torturantes, contudo cativantes livros da série «Onde está o Wally?» – dignos de um Leopold von Sacher-Masoch:

«Teria votado nele para a presidência da câmara, mas concluo que este homem se transformou no Wally da nossa República.»

sexta-feira, 21 de abril de 2006

Mudo e quedo: a promessa

Com uma força de vontade e um empenhamento inauditos, tenho vindo a conseguir não quebrar a promessa feita aqui.
Agora, aqui no topo figurará um singelo relógio que poderá indicar o fim deste calvário de mutismo auto-imposto – de notar o emprego do verbo atrás destacado, não vá o resultado final adiar o termo da pena!

Anda Pacheco! [actualização encerrada às 16:15 - 22/04]

A blogosfera não possui um código deontológico para os seus utilizadores. «Ainda bem!», digo eu.
E,
O que é um blogue?
Não sei! Só sei que reveste a forma de uma página em linguagem HTML disponível ao público, na qual o(s) autor(es) expõe(m) os seus textos para serem lidos, muitas vezes narcísicos e sobranceiros – leia-se pequena dissertação de cunho fortemente idiossincrático –, normalmente numa base diária, derivando da palavra anglo-sáxonica weblog, ou seja, diário de bordo na rede.

Cada autor é como é!
Uns disponibilizam caixa de comentários, outros não!
Uns escrevem com o tipo de letra Georgia, tamanho 10, com avanço de parágrafo de 5 mm e espaçamento simples, outros não!
Uns põem florezinhas e cãezinhos, o Bart Simpson e a Miss Piggy, outros não!
Uns escrevem sobre futebol, outros não – e ridicularizam-nos (por favor, voltar a ler à 5.ª e 6.ª linhas deste texto)!
Uns acordam de manhã muito cedinho e, ainda com a próstata envasada que incita o desabrochar de uma pequena intumescência peniana, postam um poemazinho, outros dormem ou trabalham sem vergonha!

E poderia continuar a enumerar uma série de diferenças entre práticas e estilos. Ora, é precisamente nessa diferença que reside a beleza deste pequeno mundo que, para muitos, sem os meios necessários para atingir as luzes da ribalta, assume o carácter de transcendência!

Um blogue com caixa de comentários é, por definição, um espaço livre e democrático pela imanente característica da interactividade. Não quero com isto dizer que os outros não o sejam. São critérios!
Por exemplo, os meus mui visitados blogues
Babugem, Bombyx Mori e Da Literatura não dispõem de caixas de comentários, porém os seus autores não se sentem melindrados com esse facto. Quem quiser interagir que envie uma mensagem de correio electrónico para o endereço postado no respectivo blogue.
Já no caso do
Abrupto, o seu autor, José Pacheco Pereira, faz a chamada triagem no escurinho do cinema. É um blogue sem comentários, mas com comentadores eleitos pelo autor num critério obscuro. Nessa matéria, é um blogue do não é carne, nem é peixe; é nim, já que se veda a hipótese do comentário em linha, mas publicam-se os comentários privativos que mediante um critério meramente pessoal, passam a públicos.
Já nem discuto a questão – essa sim, ética – da necessária autorização prévia dos seus autores para a sua publicação. Porém, posso discutir – porque sou um homem livre, que vive num regime democrático – ou apreciar o critério, e até com ele efectuar um pequeno exercício especulativo: Será que apenas se publicam os que são laudatórios? Ou aqueles que são redigidos pela nata de uma determinada horda com preestabelecidos pedigree, graus de intelectualidade ou de abstracção? Ou aqueles que não usam advérbios de modo, nem travessões em vez de parêntesis? Ou aqueles que não utilizam a merda de um palavrão?

Parece-me que
JPP tenta justificar-se, atacando tudo e todos – como é seu apanágio quando discorda –, perante a não inclusão no seu blogue de uma caixa de comentários.

Quem está mal muda-se!
Falando apenas em meu nome, suponho que já não tenho idade e pachorra suficientes para ter de ler, ver ou ouvir as directrizes de uma putativa autoridade moral da blogosfera que, ademais dos mandamentos – que depois deixaram de o ser –, recorrentemente dá uns puxões de orelhas a quem mija fora do seu exíguo penico de pendor normativo.
Mais grave, o arauto e paladino do movimento anti-anónimos lança o libelo num jornal de tiragem nacional, coisa que 99,9% da população portuguesa jamais pensou, ou melhor, poderá fazer.

Respostas a este artigo na caixa de comentários, que, e adianto-me já, só pode ser usada por quem estiver registado no
Blogger. Este critério foi utilizado para evitar os famosos comentários com publicidade – verdade seja dita, ainda assim vão aparecendo. Todavia, o registo é simples, curto e gratuito.

A ler [actualização encerrada com chave de ouro, termina com 2 textos* das visadas pelo panfleto, Zazie e Sabine]:

Nota: *Via este texto do Afonso, publicado no Bombyx Mori.

quinta-feira, 20 de abril de 2006

Páginas Proibidas

Aviso: o conteúdo deste texto é susceptível de chocar os mais sensíveis!

Há dias assim, sem tempo e pachorra para postar!
Que me desculpe a pequena audiência que insiste, e ainda bem – pela insistência, claro! – em visitar os meus discorrimentos diários.

Mas existe uma página na internet que exacerba a minha condição de beatice!
Se não, vejam, por favor, a página de internet desta equídea associação americana, a
Carriage Operators of North América.

+++ Nota Importante: Para os menos destros na língua inglesa e não só, ver aqui a informação contida na referida página, convenientemente traduzida para a língua portuguesa. Ler por favor, a parte mais abaixo sobre como localizar os serviços e sobre aquilo que a associação pode fazer por si.

À atenção de Jaime Gama

Na edição de hoje do jornal O Jogo noticia-se que:

«Clube romeno submete jogadores a detector de mentiras».

Tudo o que sirva para auxiliar o Presidente da Assembleia da República, no desempenho da tarefa hercúlea que se lhe depara, será bem-vindo!

quarta-feira, 19 de abril de 2006

A trissecção do ângulo

Há pouco tive a feliz oportunidade de ver o que nos espera no próximo Quadratura do Círculo na SIC-Notícias, com emissão garantida para as 23 horas de hoje.
Parafraseando o Simão Sabrosa – aquando da entrega do troféu “A Bola de Bronze”, há uns anos atrás –, ambos os três foram unânimes ao considerarem aqueles que se indignaram com a debandada parlamentar na véspera da quinta-feira Santa como demagogos e populistas.
Chegou-se ao cúmulo de se afirmar que o nosso parlamento funciona numa lógica partidária – o que é a mais pura das verdades, significando que se esqueça de uma vez por todas a representatividade dos círculos eleitorais – logo a verificação do quórum nem seria assim tão necessária!
É de bradar aos céus!!!
Nesse sentido, proponho que se reduza o número de deputados a 1 por cada grupo parlamentar, onde cada qual deteria o correspondente à fracção do número de deputados eleitos sobre o número total de deputados da câmara.

Um exemplo bem elucidativo:

  • Alberto Martins, líder do grupo parlamentar do PS, vale 121 deputados num total de 230, logo tem uma percentagem de voto na Assembleia de 52,6%;
  • Marques Guedes, PSD, 75/230, 32,6%;
  • Bernardino Soares, PCP, 12/230, 5,2%;
  • Nuno Melo, CDS-PP, 12/230, 5,2%;
  • Luís Fazenda, BE, 8/230, 3,5%;
  • Heloísa Apolónia, PEV, 2/230, 0,9%.

Assim, poupar-se-ia o montante correspondente a 224 ordenados na actual legislatura.
A actual quadratura vê-se grega para explicar determinadas evidências e, depois, à laia de Arquimedes de paróquia, encontram a solução através da trissecção do ângulo: o consenso!
Mais um mistério resolvido!

Deo Gratias!

500 Anos

19 de Abril de 1506 – 19 de Abril de 2006


Depois do que foi dito, nada melhor do que lembrar estas palavras para traduzir alguns silêncios que se tornam ensurdecedores:

«What the world expects of Christians is that Christians should speak out loud and clear, and that they should voice their condemnation in such a way that never a doubt, never the slightest doubt, could rise in the heart of the simplest man. That they should get away from abstraction and confront the blood-stained face history has taken on today. The grouping we need is a grouping of men resolved to speak out clearly and to pay up personally. When a Spanish bishop blesses political executions, he ceases to be a Christian or even a man; he is a dog just like the one who, backed by an ideology, orders that execution without doing the dirty work himself. We are still waiting, and I am waiting, for a grouping of all those who refuse to be dogs and are resolved to pay the price that must be paid so that men can be something more than a dog.»
Albert Camus, discurso proferido num mosteiro dominicano, 1948

Destaco alguns judeus, deuses literários:
Isaac Asimov, Max Aub, Paul Auster, Saul Bellow, Edgar L. Doctorow, Nadine Gordimer, Franz Kafka, Norman Mailer, David Mamet, Arthur Miller, Michel de Montaigne, Boris Pasternak, Harold Pinter, Marcel Proust, Philip Roth, J. D. Salinger, Susan Sontag, Leon Uris, Ludwig Wittgenstein.

Marcelo dixit – versão 2.0

Por pura coincidência, ou talvez não, a versão em texto do programa televisivo de domingo passado de «As Escolhas de Marcelo» na RTP1 surge com a menção de «Texto indisponível». No entanto, existe a versão em linha do vídeo com som no formato RealPlayer e há ainda a possibilidade de transferir ou de ouvir em linha o ficheiro de som em formato mp3.
Relativamente ao que referi
neste texto, a propósito das palavras proferidas por Marcelo Rebelo de Sousa sobre os deputados eleitos pelo Círculo Eleitoral de Braga – no qual Marcelo está recenseado pelo concelho de Celorico de Basto – cabia em primeiro lugar verificar a lista de deputados eleitos pelo Partido Social Democrata. Como referi no texto mencionado, foram ao todo 7 deputados eleitos pelo PSD num total de 18 – 9 pelo PS, 1 pelo CDS/PP e 1 pelo PCP.
Hoje os serviços da Assembleia da República publicaram, no Diário da Assembleia da República, referente à X Legislatura – 1.ª Sessão Legislativa, na I série –
n.º 112, de 13 de Abril de 2006, a lista de deputados faltosos, que se poderá subdividir em 2 situações:

  • Deputados que faltaram à sessão;
  • Deputados que faltaram à verificação do quórum de deliberação.

Assim, dos 7 deputados eleitos por Braga do PSD, verificaram-se 3 tipos de comportamento:

  • Estiveram presentes na sessão os deputados Fernando Santos Pereira e Patinha Antão;
  • Faltou à sessão o deputado Virgílio Almeida Costa;
  • Faltaram à verificação do quórum os restantes 4 deputados: Emídio Guerreiro, Jorge Pereira, Jorge Varanda e Miguel Macedo.

Excertos das conversas de Marcelo – extraídos do ficheiro áudio:

  • «Um escândalo!» (12’25’’);
  • «Sobre a falta de quórum é um escândalo!» (12’52’’);
  • «(…) temos aqueles senhores lá devidamente eleitos e pagos para nos representarem na votação (…) Agora, 1.º faltaram, 2.º alguns assinaram e pisgaram-se, 3.º dão uma explicação que eu acho espantosa (…) que trabalho político haverá mais importante do que votar uma lei? Deve ser outro trabalho transcendente (…)» (13’26’’);
  • «Eu vou saber quem foram os deputados da lista do PSD [eleitos por Braga] que faltaram (…)» (16’37’’);
  • «Vou pensar duas vezes se volto a votar neles» (16’51’’);
  • «Eu retiro as ilações e no que depender de mim farei tudo para que não seja candidato a deputado (…) Se são senhores que são recordistas em faltas, como é que podem encabeçar ou integrar listas!?» (17’16’’).

Bem, a ver vamos se uma vez mais há justificações de falta que serão reputadas de aceitáveis, e se não o forem se a culpa não morrerá, como sempre, solteira!
É uma vergonha!

Lágrimas escarninhas #11

Desta vez as lágrimas de pouco siso vão para este texto, pequeno e gracioso, de Pedro Mexia no seu blogue Estado Civil, com o título «Ameaças»:

«Os adolescentes ameaçam que se suicidam. Os «adultos» ameaçam que fecham o blogue.»

Eu confesso que já tive uns ameaços de suicídio blogosférico. No entanto, decorridos dois dias retirei-me da linha – atenção, nada de confusões estupidificantes! –, nenhum comboio havia passado…

Anteriores galardoados:

#1 Insónia; #2 O Sniper; #3 O Insurgente; #4 Da Literatura; #5 Mau Tempo no Canil; #6 Bombyx Mori; #7 A Origem das Espécies; #8 O Acidental; #9 Tatarana; #10 Blasfémias.

terça-feira, 18 de abril de 2006

Homo ignarus

A fazer fé nas fontes de Eduardo Pitta, as palavras reproduzidas por Raul Solnado ontem na RTP não são homofóbicas, nem sequer conseguem ser um boçal exercício de comicidade e muito menos se devem a um potencial efeito de senilidade.
É ignorância pura e dura! É um perigoso desconhecimento da terrível realidade deste flagelo e um péssimo exemplo para a sociedade em geral, e para os jovens em particular.
Não, não me estou a armar em educador do povo, ou em censor, ou em nobre puritano, ou em defensor dos homossexuais! Porém, há coisas que, mesmo a brincar, não devem ser ditas, muito menos perante milhões e no canal do Estado.
Se se disser ao Sr. Solnado que a esmagadora maioria dos contaminados pelo VIH em África se deve à prática de relações heterossexuais sem protecção, será que acredita? Ou irá dizer que em África os bordeis não são asseados?

Estou como os Monty Python, na realidade há palavras que matam! Então se ordenadas em frase…

Livro na forja

Depois de me rir a bom rir com este amor imperfeito n.º 71 do Pedro Vieira, senti-me na obrigação de anunciar à blogosfera o nome do meu futuro 1.º romance:
«Rimbaud nos Socalcos do Tanha».
A acção decorrerá em Vilarinho dos Freires, concelho da Régua – ou Peso da – tendo como protagonista o errante Sandro dos Santos que, após uma fuga das torturantes e decadentes ruas do Porto, deambula sem destino, acabando por se refugiar na deslumbrante região demarcada do Douro.
Sandro, rapaz musculado e campeão de bairro de Muay Thai – Boxe Tailandês –, fã da trilogia – futuramente tetralogia – Rambo, adopta o nome de Rambo dos Santos como método de disfarce.
Enquanto Sandro se isola no vale do Tanha, conhece David Walden, um velho americano erudito, asceta e um pouco truculento que, por equívoco lhe associa o nome de Rimbaud dos Santos, devido à sua parca cultura cinematográfica no que diz respeito às obras-primas dos filmes de rambóia com um imenso cheiro a pólvora.
David acabado de o perscrutar, julgando-se entendedor do nome e do desassossego que ensombram o rapaz, declama:
«
Tandis que les crachats rouges de la mitraille / Sifflent tout le jour par l'infini du ciel bleu; / Qu'écarlates ouverts, près du Roi qui les raille, / Croulent les bataillons en masse dans le feu;
Tandis qu'une folie
…»

No entanto, David é bruscamente interrompido na sua recitação de Le Mal, por um Rimbaud – Rambo, ou melhor Sandro – abespinhado pela afronta declamatória:
«Oh, foda-se lá para o caralho do velho!!! Vê se te calas! Não percebi um corno do que dizes…»

E, assim, continua este promissor relacionamento que dá vida ao romance!

Lágrimas escarninhas #10

Eis a dezena!
O feliz contemplado com a lágrima galhofeira n.º 10 é o JCD do
Blasfémias a propósito da Páscoa:
«A Blogosfera Ressuscitou.»
Referindo-se à faculdade auto-regeneradora de quem havia anunciado o seu fim no extinto
O Acidental. Curiosa a coincidência do reinício de actividade com a celebração das festividades pascais, é a vida!

À laia dos fisiologistas alemães, e suponho que cito o patologista Rudolf Virchow, como ainda não encontrei a alma na ponta do meu bisturi, não há qualquer possibilidade física ou material de se efectuar a ligação (link) para o bloguista ressuscitado.

segunda-feira, 17 de abril de 2006

Inconfidências conjugais #1

Sem mais delongas:
«Achas que alguém tem paciência para ler o teu blogue? Já me viste o tamanho…»

Encolhi os ombros, esbocei uma tentativa de réplica, porém saiu-me um sorriso*. Peguei no livro e… apesar das 400 páginas, que lhe conferem o volume suficiente para arma branca, recolhi-me na varanda e acendi um cigarro.
Já não os fazem como dantes… os livros, pois!

*Pensamento de pasmo: apesar de não blogar e de tão-pouco ler blogues, já conhece o truque para a popularidade: curto e com despertares pré-aurora demonstrando que se trabalha!

Europa...

Another great week for Europe…essa manta de retalhos – artificial por definição – puída, à espera que algo ou alguém a rasgue para todo o sempre.
As minhas idas à caixa de correio a cada segunda-feira poder-se-ão considerar sempre como bastante proveitosas e surpreendentes: chega a
The Economist.
A edição europeia da revista inglesa traz
esta semana uma capa que é um verdadeiro deleite, esse Inferno chamado Europa:
Título: «Outra grande semana para a Europa»;
Subtítulo: «Paralisia em Itália, rendição em França».

Separados à nascença?


Frank SinatraRui AraújoSempre que me ligo à página da internet do jornal Público julgo ver um Sinatra – o meu deus Católico – em todo o lado, ao virar da esquina. Porém, de todas as vezes, decorrido aquele lapso de segundo de caprichoso devaneio, verifico que, na realidade, se trata tão-somente – sem desprimor – de Rui Araújo, o provedor dos leitores do referido jornal.

Será que o Rui consegue cantar In the Wee Small Hours of the Morning, com a mesma melancolia do Ol' Blue Eyes, quando lhe dirigem cartas de protesto pelo pagamento obrigatório para se ter acesso em linha ao conteúdo do jornal
?

Do esquecimento

Não há pior forma de esquecimento do que a omissão, porque esta não é descuido ou desleixo, reveste-se de um acto deliberado que, eventualmente, inflige dano na parte omitida.
É assim que funciona esta pequena blogosfera que, todavia, não esmorece o presumido adversário, antes lhe dá a força necessária para continuar e servir um público desconhecido, mesmo que ínfimo, através da verdade e nada mais que a verdade.
Quem escreve gosta de ser lido, até citado, nunca esquecido.
Há aqueles que permanecem neste mundo sem serem reconhecidos porque não o querem e para tal não trabalham e há os outros que dele dependem – do reconhecimento –, como uma palavra amiga que nos sai da alma num momento oportuno quaisquer que sejam as circunstâncias e a envolvente.
Escrevo por prazer e sem ataviamentos, apenas como forma de expelir os meus sentimentos mais íntimos, confessáveis, sem rodeios, que de outra maneira ficariam fechados nesta carapaça a provocar-me um lento e cruel definhamento intelectual e espiritual.
Pronto, já está. É o meu processo de catarse.
Quanto ao avivar da memória colectiva nacional pelos horrendos acontecimentos de há 500 anos atrás, no próximo dia 19, estou solidário com os fins, mas não me revejo nos meios.


שָׁלוֹם

domingo, 16 de abril de 2006

Marcelo dixit [Actualizado]

Marcelo Rebelo de Sousa, cidadão eleitor do círculo eleitoral de Braga, prometeu, hoje em directo no seu programa de televisão «As Escolhas de Marcelo» na RTP1, que se iria certificar se os deputados do PSD que ajudou a eleger por Braga teriam faltado à sessão parlamentar de quarta-feira passada na Assembleia da República.
Marcelo disse mais, fez depender o seu voto no PSD nas próximas eleições legislativas no comportamento assumido pelos deputados em causa – caso não tivessem comparecido sem justificação de força maior – e que tudo iria fazer, desde que ao seu alcance, para que os prevaricadores não se candidatassem uma vez mais pelo seu partido.
Assim, atendendo ao eminente sentido de Estado e de serviço público deste blogue, publicam-se os nomes dos deputados em exercício na actual legislatura, eleitos pelo círculo eleitoral de Braga pelo Partido Social Democrata:

  • Emídio Guerreiro
  • Fernando Santos Pereira
  • Jorge Pereira
  • Jorge Varanda
  • Miguel Macedo
  • Patinha Antão
  • Virgílio Almeida Costa

(Nota: esta é apenas a lista dos deputados por Braga eleitos pelo PSD, não é a lista dos faltosos)

Olhando bem e estando atento à realidade política nacional, há, pelo menos, 3 nomes da lista de 7 que, a terem prevaricado de acordo com a directriz marcelista, irão fazer mossa no partido em causa e motivar muitos editoriais, muitos artigos e entrevistas, e uma salutar, e cada vez mais importante no contexto global, discussão na blogosfera.
Eu, humilde eleitor e agreste contribuinte, espero que a medida apalavrada se imponha e que, desta feita, se acabe com a impunidade destes esbanjadores – é um eufemismo – dos dinheiros públicos.
Muitas vezes os grandes exemplos e as medidas profilácticas provêm destes micro-episódios que, aparentemente, costumam resultar num impune nada para o perpetrador.
A ver vamos!

Nota: O texto completo da emissão de hoje será publicado na íntegra no sítio do programa, assim como o habitual ficheiro de som em formato mp3 ou em vídeo através da aplicação RealPlayer.

Adenda: Ler este artigo do Paulo Gorjão, no Bloguítica, onde já se prognosticava o que iria ser dito hoje.

A moda dos Fibs

Na edição do The new York Times de sexta-feira passada, um artigo intitulado por «Fibonacci Poems Multiply on the Web After Blog's Invitation» chamou-me à atenção pela referência à famosa Sequência de Fibonacci.
Fibonacci – de nome Leonardo Pisano – foi um dos mais importantes matemáticos da história, sendo o seu principal mérito a introdução no mundo ocidental da, menos complexa e moldável em termos matemáticos, numeração árabe no início do século XIII, com a publicação em 1202 do seu livro «Liber Abaci».
Outro facto bem conhecido do público em geral – através da leitura do livro de Dan Brown, «O Código Da Vinci» – foi a invenção da referida sequência, que consiste no seguinte:
Uma sucessão de números, iniciando-se em “0” e “1”, onde o número seguinte resulta sempre da soma dos dois números imediatamente anteriores. Então, a famosa sequência inicia-se desta forma: 0, 1, (0+1) 1, (1+1) 2, (1+2) 3, (2+3) 5, (3+5) 8, (5+8) 13, (8+13) 21 e por aí em diante.
Gregory K. Pincus, argumentista norte-americano de cinema e de televisão, amante de poesia e de livros ilustrados para crianças, autor do blogue
GottaBook, lançou um desafio à blogosfera que consiste no desenho de um poema composto por seis versos, cujas sílabas seguem em crescendo de acordo com a Sequência de Fibonacci: 1, 1, 2, 3, 5, 8, isto é, 1.º verso 1 sílaba, 2.º verso 1 sílaba, 3.º verso 2 sílabas, 4.º verso 3 sílabas, 5.º verso 5 sílabas e 6.º verso 8 sílabas.
O desafio foi designado por Fib – acrónimo de Fibonacci – e teve uma repercussão estrondosa na blogosfera e nos mais diversos meios, por exemplo, nas academias de matemática, de literatura e de poesia, nos meios de comunicação social e até em poetas e em sociedades de poetas.
Eu, na minha modesta condição de blogger, contribuirei aqui, neste meu espaço de pura diversão, com o meu primeiro Fib:

Sim,
tu!
No vão
desse céu
azul esparso.
Sentes-te só, sem sol, nem mar!

AMC, Abril de 2006

Lanço o mesmo desafio aos meus visitantes que, por via da Divina Providência de apelido
Gross, aumentaram em número significativo nos últimos dias – porém, quer-me parecer que irá ser sol de pouca dura e lá voltarei aos 28 vpd.

Nota: Para saber mais sobre este desafio lançado por Gregory K. Pincus, consultar o blogue do autor, onde inclusivamente estipula algumas regras, como por exemplo, não é permitido o uso de artigos definidos ou indefinidos nos primeiros versos.

A ternura dos quase 60

Ainda vou nos 33! Anos percorridos com sobressaltos, alegrias, perdas intoleráveis, tristezas profundas, júbilos, desencantos e momentos de exultante euforia.
(Segundo os cânones, ainda desfrutarei, pelo menos, da outra metade do percurso e, talvez por isso o desígnio da morte só se sublima em mim através das perdas que irremediavelmente ainda virei a sofrer. É esse o mal de amar! Um sentimento que requer reciprocidade, mas que, na maioria das circunstâncias, é de um egoísmo exacerbado, quase parasitário das emoções da contraparte, cerceador da liberdade alheia e circunscritivo da sua conduta. Como uma imagem reverberada por um espelho, vemos os outros em função de nós próprios.)
Os parêntesis que delimitam o parágrafo anterior foram colocados à posteriori quando, num estado de lucidez – ler texto desassossegado em epígrafe neste blogue –, reparei que divagava a bom divagar.
Voltando ao assunto sobre o qual me apetece discorrer.
Dizem que com a idade, principalmente quando se dobra o difícil cabo dos 50, as pessoas ficam mais piegas, mais susceptíveis a estados de comoção, até mais compreensivas e dóceis, com uma certa dose de loucura reminiscente (percebida) e remanescente da juventude (inconsciente).
Ao 10.º romance, damos por nós a lembrar que Auster já não é uma criança, o jovem escritor da Trilogia ou do Palácio da Lua. Falta menos de um ano para Paul completar os seus sessenta anos, precisamente a idade do seu protagonista-narrador, Nathan Glass, incluído no seu último romance «As Loucuras de Brooklyn».
Auster não está melhor, nem pior, está diferente!
Não está diferente na forma de abordar o acaso – eternamente presente na sua obra – e as consequências implacáveis dos pequenos grandes episódios que preenchem a nossa vida. Não está diferente na inclusão do aparentemente insignificante que tudo significa na narrativa. Contudo, está menos sério na substância – e entenda-se aqui por “menos sério” como qualificativo do grau de comicidade –, mais solto e mais arejado, não tão carregado, embora “a miséria humana” permaneça o seu tema central.
Provavelmente, este é o menos austeriano dos seus romances. Não exige o mesmo grau de introspecção que romances como «Palácio da Lua», «Timbuktu», «Leviathan» ou até «O Livro das Ilusões» exigem. Não é tão hermético e negro como «A Trilogia de Nova Iorque»; nem tão violento, exasperante e trucidante como «A Música do Acaso».
«As Loucuras de Brooklyn» é o seu primeiro romance a mencionar acontecimentos que afectaram de forma marcante os Estados Unidos e que deixaram feridas ainda muito longe de cicatrizar na sociedade americana: as eleições presidenciais de Novembro de 2000 e o famoso imbróglio judicial no Estado da Florida, e os atentados de 11 de Setembro 2001.
Avaliação final: omitida por falta de imparcialidade!
Em jeito de nota final – para mais não roubar ao prazer da sua descoberta –, deixo aqui ficar uma classificação muito pessoal, por ordem de preferência e de entusiasmo literário, de 8 dos 10 romances já publicados por Auster até à data:

  1. A Trilogia de Nova Iorque – (The New York Trilogy, 1985);
  2. A Música do Acaso – (The Music of Chance, 1990);
  3. Palácio da Lua – (Moon Palace, 1989);
  4. Leviathan – (Leviathan, 1992);
  5. Timbuktu – (Timbuktu, 1999);
  6. O Livro das Ilusões – (The Book of Illusions, 2002);
  7. As Loucuras de Brooklyn – (Brooklyn Follies, 2006);
  8. A Noite do Oráculo – (Oracle Night, 2003).

Notas:
(1) Infelizmente, ainda não li, e já conhecem os meus critérios – linguísticos – os romances «In the Country of Last Things» (1987) e «Mr. Vertigo» (1994).
(2) Obviamente, foram excluídos da lista os seus ensaios, poesia e argumentos para filmes – igualmente deleitáveis.

sexta-feira, 14 de abril de 2006

Lágrimas escarninhas #9

Nada como o início da Sexta-feira Santa para quase quebrar uma promessa – e disse "quase", porque me limito a reproduzir algo que foi escrito por outrem.
Esta é a 9.ª edição deste espaço, votado ao riso deliberadamente inclemente, com o 9.º autor diferente – este facto traz à colação o logro perpetrado pelos arautos do fim desta imensa comunidade pecadora, demonstrando uma vez mais a riqueza e a saúde actuais da nossa blogosfera.
O galardão vai, merecidamente, para o Manuel Jorge Marmelo – cujo blogue e texto aqui representados acabei de descobrir, via o impagável
Cantinho do Hooligan de FJV.
Então, MJM escreve
esta pequena indignação perante a pasmosa amnésia colectiva dos habitualmente pertinazes defensores dos direitos dos animais:

«Não percebo essas associações que alegadamente se dedicam à defesa dos animais. Protestam por tudo e por nada, mas não se lhes escuta uma palavra que possa ajudar a salvar aquela pobre águia, Vitória se chama (?!), aviltantemente forçada, um domingo após outro, à tortura de ver jogar tão mau futebol.»

Ler texto e comentários – onde ademais se vai discutindo o tema “Dragão: mito ou realidade? Uma reflexão sobre Komodo” – no blogue Tatarana, que aliás salta, desde já e sem passar pela casa de partida, para a coluna à direita… deste texto, claro!

quinta-feira, 13 de abril de 2006

Eu, pecador me confesso!

Não, não fujo aos impostos, os outros fogem – e de que maneira! – por mim!
Se conduzo em excesso de velocidade? Não... digo!
No entanto, sou um pecador. Um bastardo de um neo-pecador.
Ora bolas, já não me bastava o pesado fardo do pecado original com o qual os meus luxuriosos pais me resolveram carregar à nascença – obscenos! – e houve um espírito de luz que me soprou que de facto sou um pecador porque escrevo estas palavras!
Não porque elas sejam injuriosas ou sacrílegas, mas porque o acto de composição deste texto me incrimina pelo tempo despendido inutilmente.
Neste momento sinto essa duplicidade que me atulha o cérebro de sinapses contraditórias. Por cada letra que acrescento a este texto, menos uma letra leio dos cinco livros do Pentateuco, dos Actos dos Apóstolos, da Epístola de S. Paulo aos Coríntios.
Assim sendo, vou publicá-lo antes que o cúmulo da penitência, transitado em confidência, me enclausure no coração das trevas a ler o Apocalipse – não de Conrad – de S. João Evangelista.
O Horror!

Nota: Ler a notícia aqui, mesmo sabendo que ireis pecar, irmãos!

Haja Fé!

Samuel Beckett

Samuel Beckett 100 Anos
(1906-1989)